"A ciência e a realidade mostram que desta vez a conta chegou antes e o planeta já não espera para cobrar à próxima geração", disse o presidente brasileiro numa intervenção num segmento da COP28, que decorre no Dubai, destinado a líderes políticos.
"O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos. De metas de redução de emissão de carbono negligenciadas. Do auxílio financeiro aos países pobres que não chega. De discursos eloquentes e vazios. Precisamos de atitudes concretas. Quantos líderes mundiais estão de facto comprometidos em salvar o planeta?", apontou Lula da Silva.
Desde que assumiu seu terceiro mandato, em 01 de janeiro, o chefe de Estado brasileiro tem defendido que a preservação do meio ambiente e as ações para mitigar os efeitos do aquecimento global seriam uma das prioridades da sua gestão.
"O não cumprimento dos compromissos assumidos corrói a credibilidade do regime. É preciso resgatar a crença no multilateralismo (...) É lamentável que acordos como o Protocolo de Kyoto (1997) ou o Acordo de Paris (2015) não sejam implementados. Os governantes não podem eximir-se das suas responsabilidades", apontou o Presidente brasileiro.
Lula da Silva disse que este ano é "o mais quente dos últimos 125 mil anos" e que "a humanidade sofre com secas, enchentes e ondas de calor cada vez mais extremas e frequentes."
"No norte do Brasil, a Amazónia amarga uma das mais trágicas secas da sua história. No Sul, tempestades e ciclones deixam um rastro inédito de destruição e morte", apontou.
O Presidente brasileiro também disse que o mundo já está convencido do potencial das energias renováveis e defendeu que "é hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis."
"O Brasil está disposto a liderar pelo exemplo. Ajustamos as nossas metas climáticas, que são hoje mais ambiciosas do que as de muitos países desenvolvidos. Reduzimos drasticamente a desflorestação na Amazónia e vamos eliminá-la até 2030.", afirmou.
Segundo Lula da Silva, não é possível enfrentar a mudança do clima sem combater as desigualdades. O governante brasileiro argumentou que reduzir vulnerabilidades socioeconómicas significa construir "resiliência frente a eventos extremos" e também ter condições de redirecionar esforços "para a luta contra o aquecimento global."
O Presidente brasileiro criticou ainda o montante gasto em armas citando, sem especificar a fonte, que somente no ano passado o mundo gastou mais de dois biliões de dólares [cerca de 1,8 biliões de euros] em armas. Quantia que, disse, poderia ser investida no combate à fome e às alterações climáticas.
"Quantas toneladas de carbono são emitidas pelos mísseis que cruzam o céu e desabam sobre civis inocentes, sobretudo crianças e mulheres famintas? A conta da mudança climática não é a mesma para todos. E chegou primeiro para as populações mais pobres", concluiu.
A COP28 decorre até 12 de dezembro e reunirá líderes mundiais, ativistas, cientistas, representantes da indústria e da sociedade civil para procurar soluções para o futuro climático e energético do mundo.
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