O secretário-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse, esta terça-feira, estar "extremamente preocupado" com a detenção de profissionais de saúde e com as "verificações prolongadas" por parte de Israel face às caravanas médicas em Gaza.
O responsável denunciou que uma missão liderada pela OMS ao Hospital Al-Ahli foi parada duas vezes num posto de controlo, tanto quando se dirigia para o norte de Gaza, como quando regressava. De acordo com o secretário-geral, alguns funcionários da Sociedade do Crescente Vermelho foram detidos em ambas as ocasiões, no sábado.
"Estamos extremamente preocupados com os controlos prolongados e a detenção de profissionais de saúde que colocam em risco a vida de pacientes já frágeis. [...] Quando a missão entrou na Cidade de Gaza, o camião de ajuda que transportava as provisões médicas e uma ambulância foram atingidos por balas. Ao regressarem, alguns pacientes e profissionais de saúde do Crescente Vermelho foram instruídos no posto de controlo a deixar as ambulâncias. Alguns profissionais de saúde foram detidos e interrogados durante várias horas", escreveu Tedros Adhanom Ghebreyesus, na rede social X (Twitter).
O secretário-geral da OMS indicou ainda que, devido aos atrasos gerados pelos controlos israelitas, "um paciente morreu no caminho, dada a gravidade dos ferimentos e a demora no acesso ao tratamento".
"O povo de Gaza tem direito ao acesso a cuidados de saúde. O sistema de saúde deve ser protegido. Mesmo na guerra", defendeu.
We received greater detail on Saturday’s high-risk @WHO-led mission in #Gaza to Al-Ahli Hospital. We are deeply concerned about prolonged checks and detention of health workers that put lives of already fragile patients at risk.
— Tedros Adhanom Ghebreyesus (@DrTedros) December 12, 2023
The mission was stopped twice at the Wadi Gaza… https://t.co/DG4uxYSNBw
Entretanto, a organização emitiu um comunicado, também esta terça-feira, no qual reiterou "o seu apelo à proteção dos cuidados de saúde e da assistência humanitária em Gaza".
"A obstrução de ambulâncias e os ataques a trabalhadores humanitários e de saúde são injustos. Os cuidados de saúde, incluindo ambulâncias, são protegidos pelo direito internacional. Devem ser respeitados e protegidos em todas as circunstâncias. As dificuldades enfrentadas por esta missão ilustram a diminuição da janela para os intervenientes humanitários prestarem ajuda em Gaza, embora o acesso seja desesperadamente necessário para aliviar a situação humanitária catastrófica", considerou.
A entidade revelou ainda que um dos funcionários do Crescente Vermelho detidos foi libertado "após esforços conjuntos da ONU". No entanto, o trabalhador disse ter sido "assediado, espancado, ameaçado, despido e vendado".
"As mãos foram amarradas atrás das costas e foi tratado de maneira degradante e humilhante. Depois de libertado, foi deixado para caminhar em direção ao sul com as mãos ainda amarradas atrás das costas e sem roupa ou sapatos", relatou.
A OMS detalhou ainda que, no dia 18 de novembro, "seis pessoas do Ministério da Saúde e da República Popular da China foram detidas durante uma missão liderada pela OMS para transferir pacientes do Hospital Al-Shifa", sendo que quatro pessoas – três do Ministério da Saúde e um funcionário do Crescente Vermelho – ainda estão detidas.
"Não há informações sobre o seu estado de saúde ou paradeiro. Isto é inaceitável. A OMS, juntamente com os seus familiares, colegas e entes queridos, está profundamente preocupada com o seu bem-estar. Reiteramos o nosso apelo para que os seus direitos legais e humanos sejam respeitados", indicou.
Nessa linha, a organização sublinhou que, "à medida que as hostilidades aumentam em Gaza, a ajuda fica aquém das necessidades e o sistema de apoio humanitário está à beira de desmoronar", argumentando que "a única solução viável é um cessar-fogo sustentado".
No sábado, a OMS conseguiu entregar material cirúrgico, suficiente para tratar 1.500 pacientes, ao Hospital Al-Ahli, e transferiu 19 utentes críticos e 14 acompanhantes para o Complexo Médico Nasser, no sul de Gaza, para receber "um nível mais elevado de cuidados".
Contudo, a unidade é, agora, "uma zona de desastre humanitário", estando "extremamente congestionada". Ainda que tenha apenas quatro camas, a instituição está a albergar 200 doentes e várias outras pessoas que ali encontraram refúgio do conflito.
"Os médicos disseram que a situação está fora de controlo, já que enfrentam escassez de combustível, oxigénio e provisões médicas essenciais, bem como falta de alimentos e água para os pacientes e para eles próprios. A capacidade do pessoal de saúde é mínima, os cuidados de enfermagem são extremamente limitados e o hospital depende fortemente de voluntários", apontou, dando ainda conta de que muitos dos casos graves estão a ser tratados "nos corredores do hospital, no chão, na capela e até na rua".
Depois do ataque surpresa do Hamas contra o território israelita, sob o nome 'Tempestade al-Aqsa', Israel bombardeou a partir do ar várias instalações daquele grupo armado na Faixa de Gaza, numa operação que denominou 'Espadas de Ferro'.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou que Israel está "em guerra" com o Hamas, grupo considerado terrorista por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE), tendo acordado com a oposição a criação de um governo de emergência nacional e de um gabinete de guerra.
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