José Maria Neves falava à agência Lusa à margem da atribuição do doutoramento "honoris causa" do Iscte ao ex-primeiro-ministro e Presidente da República de Cabo Verde Pedro Pires e à cientista portuguesa Manuela Veloso.
"Há outros pontos em comum, como por exemplo o campo de concentração do Tarrafal. Vamos comemorar os 50 anos da libertação dos presos políticos. Estavam lá os presos de Portugal, de Angola e de Cabo-Verde no 25 de Abril de 1974", afirmou.
Para o chefe de Estado cabo-verdiano, esta é uma demonstração da "ligação desta luta comum pela liberdade".
"Temos, em comum, que fazer lembrar essa luta e os extraordinários ganhos políticos que trouxe a Portugal e às ex-colónias portuguesas", disse.
Sobre o doutoramento atribuído a Pedro Pires, José Maria Neves classificou-o de uma "referência importante".
"Pedro Pires foi o negociador da independência de Cabo Verde com Mário Soares. São os dois os protagonistas deste acordo e mostra a dinâmica da luta contra o colonialismo e a dinâmica da construção de uma sociedade democrática em Portugal", lembrou.
"É esta dinâmica que se revela agora, no quadro das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril com esta distinção a Pedro Pires e a comemoração do centenário do nascimento de Mário Soares. Temos que ver essa ponte e procurar trazer para a esfera pública os pontos comuns desta luta contra o colonialismo, contra a subjugação e também pelas liberdades fundamentais, aqui em Portugal", adiantou.
Para José Maria Neves, "a independência corre em paralelo com a construção do Estado de direito em Portugal".
Questionado sobre os desafios atuais com que o mundo se depara, o Presidente cabo-verdiano disse que a situação é "muito difícil e também muito complexa".
"Podemos dizer que destas guerras geoestratégicas teremos com certeza uma nova ordem mundial. Com vários atores, mais multipolar, temos é que ter a consciência que as forças democráticas e progressistas do mundo devem continuar a bater-se para defender a democracia e defender as liberdades fundamentais para termos um mundo muito mais humanizado, na sequência dessas guerras", declarou.
E adiantou: "Há muitas forças iliberais que se organizam e é preciso, 50 anos após o 25 de Abril, redobrar os esforços para que as novas gerações assumam a democracia como um compromisso e o ideário de um mundo mais justo, mais igual e mais inclusivo".
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