O Ministério dos Negócios Estrangeiros palestiniano denunciou, através de um comunicado publicado na rede social X (antigo Twitter), que a fome faz parte da política de Israel e pediu às Nações Unidas que declarem oficialmente que a Faixa de Gaza sofre uma situação de grave fome devido "à guerra genocida e ao bloqueio" imposto pelo Governo de Telavive.
Ao mesmo tempo, o ministério apelou para que as Nações Unidas responsabilizem Israel pela situação e ponham em marcha, o mais rapidamente possível, medidas para reverter o cenário.
"O Estado ocupante pretende exterminar o nosso povo, não só através de brutais bombardeamentos, destruições, assassinatos e execuções diretas, mas também através do extermínio pela fome", denunciou a Autoridade Palestiniana.
"Israel é um Estado de ocupação, bloqueio e 'apartheid', responsável por todas as formas de genocídio cometidas contra o nosso povo, incluindo a fome", reiterou.
A mesma fonte lembrou que existem vários relatos de organizações internacionais que têm feito eco desta situação, manifestando a sua preocupação com a grave escassez de recursos e alimentos na Faixa de Gaza desde o início dos bombardeamentos israelitas.
"Mais de meio milhão de pessoas estão a morrer à fome", sublinhou.
Na semana passada, a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) também acusou o Governo de Israel de "utilizar a fome de civis como método de guerra" na Faixa de Gaza ocupada, alertando que a prática constitui crime de guerra.
"As forças israelitas estão a bloquear deliberadamente o fornecimento de água, alimentos e combustível, impedindo deliberadamente a assistência humanitária, aparentemente arrasando zonas agrícolas e privando a população civil de objetos indispensáveis à sua sobrevivência", escreveu a organização, em comunicado.
Segundo a HRW, o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas informou, a 06 de dezembro, que nove em cada 10 agregados familiares do norte da Faixa de Gaza e dois em cada três agregados familiares do sul do território tinham passado pelo menos um dia e uma noite sem alimentos, referiu ainda a HRW.
A organização não-governamental lembrou ainda que, "antes das recentes hostilidades", já se estimava que 1,2 milhões dos 2,2 milhões de habitantes da Faixa de Gaza se encontravam em situação de insegurança alimentar aguda e mais de 80% dependiam de ajuda humanitária.
Acusação semelhante foi feita pela Save the Children, segundo quem "afastar deliberadamente a população civil de comida, água e combustível e impedir propositadamente os mantimentos de chegarem às populações é usar a fome como arma de guerra".
A organização não-governamental citou vários casos de crianças e famílias que não têm acesso a água, abrigo e comida durante dias, defendendo que "a fome nunca deve ser usada como método de guerra".
Na sexta-feira, a União Europeia afirmou estar "profundamente chocada" com a situação de fome em Gaza, onde a iniciativa IPC [Classificação das Fases de Insegurança Alimentar], apoiada pela ONU, relatou que quase toda a população está em insegurança alimentar e um quarto enfrenta uma situação catastrófica.
Num comunicado conjunto, o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, e o comissário europeu para a Gestão de Crises, Janez Lenarcic, salientaram que esta é uma "situação sem precedentes", sublinhando que "nunca nenhuma análise do IPC registou tais níveis de insegurança alimentar em qualquer parte do mundo".
Segundo a iniciativa IPC, entre 24 de novembro de 07 de dezembro, mais de 90% da população da Faixa de Gaza (cerca de 2,08 milhões de pessoas) enfrentava níveis elevados de insegurança alimentar aguda, classificados na Fase 3 do IPC ou acima (crise ou pior).
Entre estes, mais de 40% da população (939.000 pessoas) encontrava-se em situação de emergência (IPC Fase 4) e mais de 15% (378.000 pessoas) em situação de catástrofe (IPC Fase 5).
As escalas do IPC são atualmente utilizadas em 30 países, alguns dos quais enfrentam as piores crises alimentares do mundo.
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