A três dias das eleições presidenciais e parlamentares em Taiwan, Michael Reilly, do Programa de Estudos de Taiwan da Universidade de Nottingham (Reino Unido), notou como norte-americanos e chineses encaram Taiwan como "práxis da sua influência", ao passo que a Europa se afasta da questão direta da segurança.
"Há três razões pelas quais a Europa deve dar mais atenção a Taiwan. A primeira é que, com a pandemia, percebeu-se a importância quotidiana dos semicondutores, que estão no frigorifico ou no Zoom (plataforma de videoconferência) e que têm hoje a importância que o petróleo teve nas décadas de 70 e de 80", começou por argumentar o especialista do debate promovido pelo centro de investigação britânico, lembrando a importância de Taiwan para a produção destes componentes.
A segunda razão relaciona-se com o comércio e que qualquer alteração no estreito de Taiwan iria "afetar a atividade e a prosperidade", enquanto a última razão é de âmbito político, uma vez que se trata de uma democracia liberal, com "valores a defender tão importantes como na Ucrânia".
A par de Reilly, dois outros especialistas -- Bo-jiun Jing e Chun-Yi Lee notaram como a corrupção e as relações com Pequim dominam a campanha eleitoral dos três candidatos presidenciais, em vez de assuntos internos.
Da faculdade de Política e Relações Internacionais da Universidade de Nottingham, Chun-Yi Lee recordou o alerta nacional do Ministério da Defesa de Taiwan lançado terça-feira, que na versão original referia o lançamento de um satélite pela China, enquanto na língua inglesa referia um míssil, o que para a especialista espelha o estado de prontidão em relação a ações do vizinho "omnipresente".
A especialista referiu ser esta a face visível, mas há outras como a "China alegadamente comprar candidatos" e sobretudo fazer desaparecer informação ou fomentar a desinformação. Taiwan "tem sido resiliente quanto a estas campanhas (de desinformação) e pode testemunhar uma experiência de 'soft power' (poder não militar)" num fenómeno que tem escala global, rematou.
Bo-jiun Jing, do Programa de Estudos de Taiwan de Oxford, referiu, por seu lado, como Taiwan tem amadurecido o seu sistema democrático e sublinhado uma identidade própria, afastada da chinesa, pelo que a tentativa de influência tem sido contraproducente para a China.
Os especialistas também notaram que as últimas sondagens mostram que nenhum dos três partidos deve alcançar maioria no parlamento, o que deverá obrigar a uma coligação entre o atual partido no poder, o Partido Democrático Progressista (DPP, na sigla em inglês), e o principal opositor, o Kuomintang. Enquanto o TPP demonstra implementação junto dos jovens, sobretudo preocupados com baixos salários e preços elevados da habitação, pormenorizou Jing.
Conhecidas as posições dos candidatos em relação a Pequim, Reilly perspetiva que se o DPP se mantiver no poder, poderá haver uma espécie de "teste, provocação, mas não logo após a eleição para ver a reação".
As relações entre Pequim e Taipé deterioraram-se desde que Tsai Ing-wen, do DPP, assumiu o poder, em 2016. Tsai enfatizou uma identidade nacional taiwanesa distinta da China e recusou-se a reconhecer o Consenso Pequim - Taipé de 1992, que afirma a unidade da ilha e do continente chinês no âmbito do princípio 'Uma só China'. O Governo chinês interrompeu os contactos oficiais com Taipé.
As eleições são disputadas sobretudo entre William Lai, atual vice-presidente de Taiwan e candidato do DPP, tradicionalmente pró-independência, e o Kuomintang (Partido Nacionalista), favorável a uma aproximação a Pequim.
Lai é visto pelo regime chinês como um separatista e um defensor da independência formal do território. Pequim advertiu os eleitores da ilha que uma vitória de Lai vai empurrar o território "para a beira da guerra".
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