Analista. Taiwan espera pressões militares após vitória de Lai Ching-te
O independentista William Lai Ching-te ganhou as eleições presidenciais em Taiwan, mas o caminho a percorrer não será fácil face a uma China cada vez mais exigente, o que deverá intensificar a pressão militar e as sanções económicas.
© Getty Images
Mundo Independentista
A conclusão está contida numa análise/súmula das eleições em Taiwan, baseada em analistas locais e internacionais avançada hoje pela agência noticiosa France-Presse (AFP), em que se lembra os períodos pré-eleitoral, eleitoral e pós-eleitoral.
Durante a campanha, Pequim avisou os taiwaneses para fazerem a "escolha certa", descrevendo William Lai (também conhecido por Lai Ching-te) como um "perigo grave" que se arriscava a seguir o "caminho nefasto" da independência. Mas, mais de 40% da população votou no vice-presidente cessante e no seu companheiro de candidatura Hsiao Bi-khim, ex-representante de Taipé em Washington.
Pequim tem agora de calibrar cuidadosamente o seu plano de ação", diz Alexander Huang, perito militar da Universidade de Tamkang, em Taipé.
Segundo Huang, a resposta militar chinesa à votação "não será provavelmente imediata", mas "Pequim aumentará a pressão sobre Taiwan de outras formas".
Marc Julienne, responsável pelas atividades sobre a China no Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI), tem a mesma opinião: "O período a observar, que será provavelmente um pouco mais perigoso com mais posturas militares chinesas, será provavelmente o que antecede o do discurso de tomada de posse, em maio".
Taiwan já observa uma presença quase diária de aviões e navios de guerra chineses no Estreito, o que faz temer um possível acidente, especialmente na ausência de comunicações de alto nível entre Pequim e Taipé.
O politólogo Wen-ti Sung prevê o aumento das táticas de intimidação, como o envio de balões chineses, para "aumentar a pressão".
A visita de hoje e segunda-feira de uma delegação informal dos Estados Unidos para "transmitir as felicitações do povo norte-americano a Taiwan" também é suscetível de irritar Pequim.
Em agosto de 2022, a visita a Taiwan de Nancy Pelosi, então Presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, provocou a fúria da China, que lançou manobras militares em grande escala em resposta.
Taiwan é o líder mundial em semicondutores, componentes essenciais para o fabrico de produtos de alta tecnologia, em que a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) fornece, por si só, quase 50% da produção mundial de 'microchips' com menos de 10 nm.
O novo Presidente tem, assim, a responsabilidade de encontrar um equilíbrio face às tensões entre a China e os Estados Unidos sobre as exportações de tecnologia.
Em declarações à imprensa no sábado à noite, Lai disse que queria dar "um forte apoio à indústria de semicondutores".
Para Wen-ti Sung, Pequim poderá intensificar a pressão económica sobre Taiwan, o que "definirá os termos do comércio dos dois lados do Estreito nos próximos quatro anos".
Em 2022, a China reagiu à visita de Pelosi com a imposição de sanções económicas, proibindo a importação de determinados frutos e peixes de Taiwan.
Os eleitores escolheram Lai como presidente, mas retiraram a maioria parlamentar ao seu Partido Democrático Progressista (DPP).
O DPP tem agora 51 dos 113 lugares do Parlamento, contra 52 do Kuomintang (KMT), que pretende estreitar os laços com Pequim, oito do Partido Popular de Taiwan (TPP) e dois de independentes.
O TPP terá, portanto, um papel "decisivo" no processo de decisão, prevê Raymond Kuo, especialista em Taiwan do instituto norte-americano Rand Corporation.
Mas, quando se trata de grandes questões, como o aumento do orçamento da defesa, "há o início de um consenso entre a população de Taiwan", sublinha.
Por isso, defende, "a obstrução nestas questões será prejudicial" para a oposição.
No entanto, qualquer legislação ligada às relações com a China será difícil de aprovar, avisa Sarah Liu, investigadora da Universidade de Edimburgo. "É pouco provável que o DPP consiga muito", argumentou.
Com a vitória de Lai, o DPP conquistou um terceiro mandato sem precedentes à frente do país, confirmando o desejo da maioria dos taiwaneses de manter uma distância cautelosa em relação à China.
A população "votou sem ter em conta o sentimento de crise [...] apresentado pela oposição", explica Ivy Kwek, do grupo de reflexão International Crisis Group (ICG).
Mas o clima de tensão significa que a manutenção do 'status quo' "é agora mais difícil". "O que vemos é que os taiwaneses têm cada vez mais uma identidade muito distinta da da China continental", enquanto "Pequim é cada vez mais poderosa", diz Ivy Kwek.
E, logicamente, Washington está "cada vez mais preocupado com as intenções da China em relação a Taiwan". Neste contexto tenso, "será difícil fazer progressos" para o Presidente Lai, "mas isso não significa que as coisas não possam melhorar".
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