A sala de imprensa na sede das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, foi pequena para dezenas de jornalistas - de vários países - que tentaram hoje colocar questões a Lavrov, mesmo após o ministro ter classificado os meios de comunicação ocidentais como sistematicamente "tendenciosos" em relação à Rússia.
Entre críticas ao 'timing' da pergunta de uma jornalista sobre as armas nucleares russas transferidas para a Bielorrússia e ter a sua porta-voz a pedir a uma jornalista para "sossegar", Lavrov aproveitou a atenção internacional para acusar a Ucrânia de um "ataque terrorista" ao abater um avião militar russo que transportaria dezenas de soldados ucranianos capturados para uma troca de prisioneiros.
Até ao momento, a Rússia não ofereceu provas sobre o incidente e a Ucrânia não confirmou ou negou imediatamente detalhes do ocorrido, pelo que Moscovo acabou a convocar uma sessão de emergência no Conselho de Segurança da ONU sobre o tema, prevista para quinta-feira.
Mantendo as habituais críticas ao Governo de Volodymyr Zelensky, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo disse na sua passagem por Nova Iorque que Moscovo está pronta para negociações sobre a Ucrânia, mas não para manter o atual Governo em Kiev. Acrescentou ainda que a Rússia nunca se recusou a resolver o conflito através de negociações.
Lavrov advogou também que a Rússia não tem a necessidade de atacar ninguém, considerando que declarações feitas em sentido contrário por vários políticos europeus e da NATO são "absurdas".
"É um disparate... Não temos qualquer desejo, nem necessidade militar, política ou económica, de atacar alguém em algum lugar", argumentou.
Desde segunda-feira que Lavrov se encontra na ONU para participar numa série de eventos e reuniões, incluindo entrevistas, 'briefings' sobre o conflito na Ucrânia, a resolução da guerra em Gaza entre Israel e o grupo islamita Hamas, e uma reunião à margem com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
Sobre o conflito em Gaza, Serguei Lavrov rejeitou hoje a utilidade de uma conferência de paz no Médio Oriente e disse que seria "uma perda de tempo" se não for alcançada através de uma união prévia de todas as alas palestinas.
Na terça-feira, perante o Conselho de Segurança da ONU, Lavrov já havia dito que o futuro Estado palestiniano deveria permanecer nas mãos do povo palestiniano.
O principal diplomata russo abordou igualmente as recentes propostas em curso entre o Hamas e o governo israelita, avaliando que estas apenas desviam a atenção da "essência do problema" que é a necessidade de um "cessar-fogo imediato".
Na conferência de imprensa, o ministro russo admitiu que, neste momento, "não há praticamente nenhum contacto" entre a Rússia e os Estados Unidos, exceto o necessário para o "funcionamento das missões diplomáticas".
Lavrov foi mais longe e questionou se as anteriores relações "normais" entre as duas potências tinham trazido algo de positivo para o seu país e para o mundo em geral.
Para o chefe da diplomacia russa, quer as ações, quer os documentos doutrinários dos Estados Unidos e da NATO retratam a Rússia "como a maior ameaça, enquanto a China é o maior desafio no próximo capítulo".
Disse ainda que esta lógica está a atingir países da Europa antes considerados neutros ou menos alinhados, citando os casos da Finlândia e da Suécia, arrastados "para posições antirrussas e russofóbicas" em favor de uma suposta "grandeza" (superioridade) da unidade ocidental.
Mesmo um país que durante décadas fez da neutralidade a sua razão de ser, como é o caso da Suíça, está a cair - disse Lavrov - na mesma tendência, tendo aprovado uma estratégia de segurança nacional para 2024-27 na qual "se prepara e tem interesse em construir a segurança europeia... não com a Rússia, mas contra a Rússia", assegurou.
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