Dorothee Klaus disse à agência espanhola EFE que a situação só será evitada se os países que suspenderam o financiamento da agência da ONU reverterem a decisão.
Dezoito países, incluindo os Estados Unidos, anunciaram a suspensão de pagamentos à agência, depois de Israel ter acusado alguns dos trabalhadores de terem participado nos ataques do Hamas de 07 de outubro.
Klaus alertou para a catástrofe humana que paira sobre os 12 campos de refugiados palestinianos geridos pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA).
"Não fizemos qualquer planeamento. (...) Tudo o que fazemos já é o mínimo indispensável (...), por isso é muito difícil decidir se deixamos morrer os doentes com cancro ou se as crianças não vão à escola", afirmou.
O Líbano acolhe cerca de 250.000 palestinianos, pelo menos 100.000 dos quais em campos onde a UNRWA atua "como um governo" e onde nenhum outro ator tem capacidade para a substituir.
Klaus disse que a agência é a "principal fornecedora de educação e saúde" nos 12 campos do país.
Também é responsável pelo bombeamento de água, recolha de lixo e controlo de pragas para manter a higiene nos campos de refugiados sobrelotados.
"O Governo deixou bem claro que não tem capacidade política nem financeira para se ocupar dos palestinianos e dos seus serviços", disse.
O Líbano entrou no quinto ano de uma grave crise económica, com um forte impacto nas instituições nacionais.
Dorothee Klaus disse não acreditar que outras organizações tenham a "capacidade institucional" para assumir o trabalho da UNRWA, caso a suspensão dos pagamentos se prolongue para além de março.
Se isso acontecer, cerca de 200.000 palestinianos ficarão sem cuidados médicos, vacinas e apoio para cirurgias ou tratamentos de cancro.
Também cerca de 40.000 crianças matriculadas nas mais de 60 escolas da organização no Líbano "não terão para onde ir".
"Os políticos libaneses e os serviços de segurança estão bastante preocupados com este cenário", referiu.
Klaus alertou que tal cenário "muito provavelmente conduziria a uma radicalização dos jovens, que não veriam outra opção para o seu futuro senão juntarem-se a organizações extremistas".
Oitenta por cento dos palestinianos no Líbano vivem abaixo do limiar da pobreza e não têm acesso a serviços básicos, pelo que a suspensão das operações da UNRWA provocaria uma catástrofe nos campos de refugiados, referiu.
Embora a Jordânia acolha o maior número de refugiados palestinianos, quase dois milhões, a situação da comunidade é muito mais favorável, com direitos de cidadania e melhores oportunidades de emprego.
No Líbano, os palestinianos estão proibidos de exercer 39 profissões sindicalizadas e de trabalhar no setor público, que representa cerca de 50% das oportunidades de emprego na região.
Também não têm direito a possuir bens imobiliários, recordou a diretora da UNRWA no país mediterrânico.
"Isto significa que não podem adquirir terrenos, apartamentos, casas ou empresas. Por isso, mesmo que consigam obter um rendimento razoável, é muito difícil investirem-no algures ou os filhos herdarem riqueza", acrescentou.
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