Em declarações num encontro com jornalistas promovido pela Associação de Imprensa Estrangeira, Donaldson admitiu existir, porém, "algum simbolismo" por a vice-presidente do partido Sinn Féin, Michelle O'Neill, que quer a unificação política da ilha da Irlanda num só país, se ter tornado a primeira mulher e a primeira republicana a chefiar o governo da Irlanda do Norte.
Após a cerimónia de posse como primeira-ministra da Irlanda do Norte em 03 de fevereiro, O'Neill afirmou acreditar que será possível um referendo sobre a unificação com a República da Irlanda nos próximos 10 anos.
"Reconheço que o Sinn Féin e outros aspiram a uma Irlanda unida, o que é uma aspiração inteiramente válida. Mas estou absolutamente determinado a defender a união porque acredito que a Irlanda do Norte funciona melhor no Reino Unido", disse hoje Donaldson.
O Sinn Féin é atualmente o maior partido da Irlanda do Norte, mas o líder do DUP lembrou que obteve menos de 30% dos votos.
"Não há indícios, em nenhuma sondagem, de que a Irlanda do Norte esteja a evoluir para uma maioria a favor de uma Irlanda unida. Todos os dados das sondagens sugerem que o apoio ronda os 35%", vincou.
Donaldson recusou também que uma minoria protestante no território reflita uma mudança da opinião pública, alegando que muitos católicos estão satisfeitos com a atual situação da Irlanda do Norte dentro do Reino Unido.
Jeffrey Donaldson falava uma semana depois de o governo autónomo da Irlanda do Norte ter voltado a funcionar após dois anos de boicote do DUP, que estava insatisfeito com o estatuto da província depois do 'Brexit' (processo de saída do Reino Unido da União Europeia).
O partido foi crítico do acordo de saída do Reino Unido da União Europeia (UE), que deixou a província dentro do mercado único europeu para manter aberta a fronteira terrestre com a Irlanda do Norte, uma das condições do acordo de paz de 1998.
O DUP considerava que as novas regras pós-'Brexit', que implicavam controlos aduaneiros e documentação em mercadorias que chegassem do Reino Unido à Irlanda do Norte, criava uma fronteira comercial dentro do país.
O Acordo-Quadro de Windsor (negociado entre Londres e a UE e formalmente adotado em março de 2023) tentou responder a algumas das questões, mas só há duas semanas é que o partido aceitou viabilizar a assembleia e governos regionais após mais cedências do Governo britânico.
Hoje, Jeffrey Donaldson disse que o DUP garantiu que a circulação de mercadorias vai ser feita livremente com o resto do Reino Unido, ao mesmo tempo que valorizou a vantagem económica que o acesso privilegiado ao mercado único europeu oferece.
"A República da Irlanda é membro da União Europeia, é membro de pleno direito do mercado único, portanto, paga muito dinheiro por esse privilégio, a Irlanda do Norte não paga nada pelo seu acesso ao mercado único", frisou.
Nos termos do acordo de paz de 1998, conhecido por Acordo de Belfast ou de Sexta-feira Santa, o governo regional da Irlanda do Norte é gerido numa base de poder partilhado entre os principais partidos unionista e republicano.
O'Neill e a vice-primeira-ministra, Emma Little-Pengelly, do DUP, têm responsabilidades e poderes iguais, mas o Sinn Féin ocupa pela primeira vez o posto de primeiro-ministro por ter eleito mais deputados para a assembleia regional nas eleições de 2022.
O compromisso é um legado do conflito violento que durou décadas na Irlanda do Norte entre a população unionista protestante, que defende a preservação dos laços com o Reino Unido, à população republicana católica, favorável à integração na República da Irlanda.
A Irlanda do Norte, antes designada por Ulster, passou a fazer parte do Reino Unido em 1921, no âmbito do processo de independência da Irlanda, mas o Sinn Féin nunca reconheceu esta divisão e continuou a defender uma "Irlanda unida", tornando-se mais tarde no braço político do grupo paramilitar Exército Republicano Irlandês (IRA).
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