Em entrevista à Lusa, Axel Wernhoff reconheceu que a invasão da Rússia à Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, alterou a realidade de todos os países e reaproximou-os de um cenário que estava esquecido desde a década de 1990.
"Desde 1990, ou melhor desde a queda do Muro de Berlim, a nossa defesa transformou-se, já não era uma defesa territorial, mas uma defesa para trabalhar em diferentes missões no estrangeiro, como nos Balcãs ou no Afeganistão", explicou o diplomata sueco.
"Isto alterou-se dramaticamente e voltámos [a Suécia] para a nossa missão nuclear de defesa territorial, está a acontecer precisamente o mesmo com a NATO", acrescentou, nas instalações da missão diplomática da Suécia para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), a pouco mais de um quilómetro do quartel-general da aliança político-militar, em Bruxelas.
Axel Wernhoff recordou que durante a Guerra Fria -- período de tensões geopolíticas entre os Estados Unidos da América (EUA) e a antiga União Soviética desde o final da década de 1940 até ao início da de 1990 -- os países investiram "4% do Produto Interno Bruto (PIB) em defesa", mas "a partir de 2010, talvez, houve uma quebra, até 1%", por causa da alteração do paradigma da geopolítica.
"Agora estamos a aumentar radicalmente [o investimento em defesa], chegámos [a Suécia] aos 2% [do PIB]. Não é extremamente alto, se olharmos para o que houve historicamente durante a Guerra Fria", completou o embaixador.
Investir mais "pode ser doloroso" para países que desinvestiram mais.
No entanto, Axel Wernhoff descartou a necessidade de haver uma economia de guerra, como aconteceu com a Rússia, que agora pode obrigar a sua indústria de defesa a produzir massivamente: "Não estamos nessa fase".
A Suécia apresentou a candidatura para aderir à NATO em maio de 2022, por receio de ser o próximo alvo de Moscovo, depois da invasão à Ucrânia.
A candidatura foi em conjunto com a Finlândia, mas Helsínquia aderiu no início de abril de 2023, e Estocolmo ficou sozinha, a aguardar a ratificação do acordo de adesão pela Turquia, que aconteceu no início do ano, e da Hungria, que ainda não o fez, já que o parlamento húngaro apenas vai retomar no final de fevereiro.
Dois anos depois de uma guerra sem fim à vista, o embaixador para a NATO considerou que "não há uma ameaça imediata" de uma "invasão convencional", já que a "Rússia está preocupada com a Ucrânia".
Contudo, Axel Wernhoff reconheceu que o Kremlin pode atacá-los de outra maneira, "com ataques híbridos e ciberataques".
E recordou que apesar das baixas e perdas de material militar do lado russo, "há partes importantes da sua defesa que continuam intactas, como a sua Força Aérea".
"Eles [Rússia] têm capacidades em Kaliningrado que estão muito próximas da Suécia e dos países do norte que são definitivamente capazes de nos prejudicar sem ser uma invasão em larga escala convencional dos nossos territórios", completou.
Mas aderindo à NATO como Estado-membro este ano -- tudo indica que assim será, sendo ainda incerto quando -- o embaixador lembrou que o país traz um grande e coordenado contingente militar.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou, de acordo com os mais recentes dados da ONU, a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa - justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
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