"O presidente emitiu um decreto aceitando a demissão e deu instruções a Mohamed Shtayeh e ao seu Governo para permanecerem temporariamente em funções até à formação de um novo executivo", indicou a presidência.
"Coloquei a demissão do Governo à disposição do presidente Mahmoud Abbas na passada terça-feira, 20 de fevereiro, e hoje apresento-a por escrito", disse o ainda primeiro-ministro no início de uma reunião com todo o gabinete governamental da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP) em Ramallah, na Cisjordânia ocupada.
Shtayeh explicou que esta decisão surge "à luz dos desenvolvimentos políticos, de segurança e económicos relacionados com a agressão contra o povo [palestiniano] na Faixa de Gaza e a escalada sem precedentes na Cisjordânia, incluindo em Jerusalém Oriental".
"É à luz do que o nosso povo, a nossa causa palestiniana e o nosso sistema político estão a enfrentar: um ataque feroz e sem precedentes, genocídio, tentativas de deslocação forçada, fome em Gaza, intensificação do colonialismo, terrorismo dos colonos e invasões repetidas de campos e aldeias em Jerusalém e na Cisjordânia", lamentou o representante político, justificando a decisão.
A demissão em bloco do governo da ANP surge numa altura em que se discute o "plano pós-guerra" para a Faixa de Gaza, sendo uma incógnita qual será a entidade que vai assumir o controlo civil do enclave palestiniano, controlado pelo Hamas desde 2007.
Israel já comunicou que não vai permitir que o grupo islamita Hamas recupere o poder em Gaza, no quadro do pós-guerra.
Os Estados Unidos defendem que a ANP - que governa atualmente partes da Cisjordânia ocupada - deve assumir as funções executivas na Faixa de Gaza quando a guerra terminar.
O Hamas expulsou a Autoridade Palestiniana de Gaza após as eleições de 2007 e mantém-se no poder naquele enclave desde então.
"Continuaremos a confrontar a ocupação e a Autoridade Nacional Palestiniana vai continuar a lutar para estabelecer o Estado em terras palestinianas", acrescentou Shtayeh.
O Governo israelita apresentou na quinta-feira passada o "plano pós-guerra" para Gaza, que não menciona o regime civil, mas refere que as tropas de Israel vão manter o controlo da segurança da zona, com liberdade de movimentos, tal como acontece atualmente na Cisjordânia ocupada.
Shtayeh considerou que o executivo demissionário, que está em funções há cinco anos e inclui parceiros independentes como cinco ministros de Gaza, fez um bom trabalho em circunstâncias difíceis como a pandemia de covid-19, ocupação e recrudescimento da violência.
Por outro lado, disse que os palestinianos estão perante "uma nova fase cujos desafios exigem novas disposições governamentais e políticas que tenham em conta a nova realidade na Faixa de Gaza e o diálogo para a unidade nacional".
"Temos uma necessidade urgente de um consenso inter-palestiniano, com uma base nacional, uma participação alargada, a unidade das fileiras e a extensão da autoridade da ANP a todo o território da Palestina" disse.
O primeiro-ministro demissionário referia-se aos "esforços falhados" de reconciliação nacional, depois de várias tentativas de diálogo entre a Fatah, o partido secular que controla a ANP, e o Hamas e outros grupos como a Jihad Islâmica.
Shtayeh agradeceu ao Presidente Abbas pela "sabedoria e apoio" e aos ministros "pelo trabalho excecional em circunstâncias excecionais".
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