A Transnístria, uma região separatistas pró-russa localizada a leste da Moldova, fez soar os alarmes, na quarta-feira, após as autoridades locais terem aprovado uma declaração oficial que pede a "proteção" da Rússia face a Chisinau. Mas, afinal, o que levou a este pedido e qual a posição dos países ocidentais (e da Ucrânia)?
A preocupação em relação à Transnístria adensou-se com o início da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, tendo, inclusive, surgido alusões sobre uma eventual expansão do conflito à região.
Já em 2023, as autoridades da autoproclamada república, localizada entre a Moldova e a Ucrânia, acusaram Kyiv de pretender atacá-la e afirmaram que preveniram um atentado contra os seus dirigentes. Na altura, o Ministério da Defesa russo assegurou também que a Ucrânia preparava uma "provocação armada" contra a Transnístria.
Em janeiro deste ano, as autoridades da Transnístria avisaram que grupos de combate estavam a ser treinados em território moldavo para lançar um ataque contra a autoproclamada república. Em comunicado, o Ministério da Segurança da região disse que os grupos eram constituídos por mais de 60 pessoas, a maior parte delas provenientes do território ucraniano e com experiência em operações de combate.
Passado um mês, face às crescentes tensões, os deputados da Transnístria reuniram-se num congresso extraordinário - o primeiro desde 2026 - e assinaram uma declaração, na qual solicitaram que Moscovo "adote medidas para proteger a Transnístria num contexto de crescente pressão por parte da Moldova".
Deputados da Transnístria reúnem-se em congresso extraordinário© STRINGER/AFP via Getty Images
Atualmente, a Rússia mantém 1.500 militares no território, segundo os números oficiais, envolvidos numa missão de manutenção da paz. No entanto, em resposta ao pedido, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo defendeu que "proteger os interesses dos residentes da Transnístria" é "uma das prioridades".
"Todos os pedidos são sempre cuidadosamente considerados pelos órgãos russos relevantes", declarou.
A Moldova já criticou o pedido de "medidas de proteção", com o vice-primeiro-ministro moldavo, Oleg Serebrian, a defender que o governo "rejeita a propaganda vinda de Tiraspol", capital da autoproclamada república.
Pelo lado da Ucrânia, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, apelou a "uma resolução pacífica das questões económicas, sociais e humanitárias [entre Moldova e Transnístria], sem qualquer interferência externa destrutiva".
"Estamos a fazer e continuaremos a fazer todos os possíveis para (...) evitar qualquer tentativa da Rússia de desestabilizar a Moldova ou outros países da nossa região", acrescentou o ministro, que disse estar "a acompanhar de perto os últimos desenvolvimentos" e pediu "a rápida retirada das tropas russas" da Transnístria.
E o que dizem os países do Ocidente?
O porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Matthew Miller, garantiu que "os Estados Unidos apoiam fortemente a soberania e a integridade territorial da Moldova dentro das suas fronteiras reconhecidas internacionalmente".
Já a diplomacia da União Europeia (UE) disse estar a acompanhar "muito de perto" a situação e frisou que a "estabilidade nesta região" é "do interesse de todas as populações".
"A UE está a acompanhar de muito perto o desenrolar da situação na República da Moldova e também no território separatista da Transnístria. Acreditamos que a estabilidade nesta região é, antes de mais, do interesse de todas as populações de ambos os lados do rio e, neste contexto, encorajamos ambas as partes a encetar um diálogo construtivo", disse o porta-voz da Comissão Europeia para os Negócios Estrangeiros, Peter Stano.
À semelhança da Ucrânia, também França considerou que a Rússia está "muito provavelmente" por detrás das "tentativas de desestabilização" na Moldova.
"A Moldova enfrenta tentativas de desestabilização cada vez mais agressivas, muito provavelmente impulsionadas pela Rússia", afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, comentando que "o apelo à chamada proteção por parte de Moscovo dos separatistas que não têm autonomia é um cenário conhecido".
Sublinhe-se que a Transnístria, uma estreita faixa de terra, declarou a secessão após um breve conflito em 1992 contra o Exército moldavo. No entanto, o território, que percorre o rio Dniestr e conta oficialmente com 465.000 habitantes na maioria russófonos, não é reconhecido como estado pelas instâncias internacionais, incluindo por Moscovo.
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