Um ex-funcionário da Boeing, conhecido por levantar preocupações sobre os padrões de produção da empresa, foi encontrado morto, nos EUA.
De acordo com a BBC, John Barnett, de 62 anos, morreu devido a um "ferimento auto-infligido", a 9 de março, dias depois de ter prestado depoimento às autoridades, no âmbito de um processo contra a Boeing, que acusou de tentar denegrir a sua imagem e prejudicar a sua carreira.
O aparente suicídio está agora a ser investigado pelas autoridades.
A Boeing já disse que ficou "triste" com a notícia. Contudo, a relação entre a empresa norte-americana e o ex-funcionário não era a melhor desde 2019, altura em que John Barnett disse, em entrevista à BBC, que a Boeing fazia "pressão para os funcionários colocarem, deliberadamente, peças abaixo do padrão em aeronaves na linha de produção" e para que o processo de montagem "fosse apressado" o que, segundo ele, podia comprometer a "segurança" dos aviões.
Durante a mesma entrevista, o norte-americano revelou que os Boeing tinham "sérios problemas" com o sistema de oxigénio, acrescentando que "uma em cada quatro máscaras não funcionariam em caso de emergência".
Já noutra altura, também à BBC, John Barnett revelou que, em alguns casos, os funcionários chegaram a ir buscar peças ao lixo para as instalar em aviões que estavam a ser construídos, de forma a evitar atrasos na linha de produção.
Nessa entrevista, o norte-americano garantiu que chegou a alertar os gestores da Boeing para estas preocupações, mas que estes não tomaram qualquer posição.
Acusações estas que a gigante aeronáutica sempre negou. Contudo, uma revisão realizada, em 2017, pelo regulador de aviação dos EUA, a Administração Federal de Aviação (FAA), confirmou algumas das afirmações de John.
John Barnett trabalhou na Boeing durante 32 anos. Entre 2010 e 2017, altura em que se reformou por motivos de saúde, desempenhou funções como responsável de qualidade na fábrica de North Charleston, que construiu o 787 Dreamliner, um avião comercial de última geração usado, principalmente, em rotas de longo curso.
Na semana passada, John prestou depoimento formal, na sequência do processo que instaurou contra a Boeing. Depois de falar com os advogados da empresa aeronáutica, deveria falar com os seus advogados, no sábado. Contudo, não compareceu ao encontro. Ao procurá-lo, depararam-se com a sua morte.
Recorde-se que, além deste processo, a Boeing está sob escrutínio devido a um incidente que aconteceu com um dos seus aviões, que operava para a Alaska Airlines, em janeiro, nos EUA, quando uma porta de saída de emergência caiu, cerca de 20 minutos após o avião levantar voo.
Um relatório preliminar do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA sugere que quatro parafusos, concebidos para manter a porta segura, não tinham sido colocados. Perante isso, após seis semanas de auditoria, a FAA concluiu que a empresa não cumpriu, "em múltiplos casos, os requisitos de controlo de qualidade de fabricação".
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