Reeleição de Putin provoca nova divergência no governo italiano

A reeleição do Presidente russo, Vladimir Putin, motivou uma nova divergência pública no seio do Governo italiano, com os vice-primeiros-ministros Antonio Tajani e Matteo Salvini a discordarem sobre a legitimidade das eleições russas, que decorreram entre sexta-feira e domingo.

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© REUTERS/Turar Kazangapov

Lusa
18/03/2024 17:13 ‧ 18/03/2024 por Lusa

Mundo

Rússia/Ucrânia

Num Governo liderado pela primeira-ministra Giorgia Meloni (líder dos Irmãos de Itália, de extrema-direita), que não comentou ainda o ato eleitoral na Rússia, as diferenças de pontos de vista dos parceiros de coligação, sobretudo na política externa, ficaram evidenciadas nas reações dos dois vice-primeiros-ministros, com Tajani (também ministro dos Negócios Estrangeiros e líder do Força Itália, centro-direita) a considerar que as eleições presidenciais russas não foram "nem livres nem justas", enquanto Salvini (líder da Liga, partido populista de extrema-direita) argumentou hoje que "as escolhas dos eleitores russos devem ser respeitadas".

As controversas observações de Salvini, que é ministro dos Transportes e Infraestruturas no atual Governo, levaram mesmo Tajani a recordar hoje, desde Bruxelas, que "a política externa é definida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros" e, "consequentemente, as posições [oficiais de Itália] em matéria de política externa são as do ministro dos Negócios Estrangeiros".

Tajani havia já comentado no domingo à noite a reeleição de Putin, escrevendo na sua conta oficial na rede social X (ex-Twitter) que "as eleições na Rússia não foram livres nem justas, e envolveram territórios ucranianos ocupados ilegalmente".

"Continuamos a trabalhar para uma paz justa que leve a Rússia a pôr termo à sua guerra de agressão contra a Ucrânia, em conformidade com o direito internacional", completava, na mensagem divulgada no domingo.

Já hoje, à margem de uma conferência em Milão sobre transportes públicos, Salvini, conhecido pela sua admiração por Putin, considerou que "quando um povo vota, tem sempre razão" e há que respeitar as escolhas dos eleitores russos.

"As eleições são sempre boas, tanto quando se ganha, como quando se perde. Quando as perco, tento perceber onde errei e como posso fazer melhor da próxima vez. As eleições tiveram lugar, registamos o voto dos cidadãos russos, e esperamos que 2024 seja o ano da paz", declarou.

Em Bruxelas, onde participou hoje numa reunião dos chefes de diplomacia da União Europeia (UE), Tajani, confrontado com as declarações do seu parceiro de coligação no Governo italiano, reiterou que não considera legítimo o resultado das eleições presidenciais russas e fez questão de lembrar a Salvini quem tem a pasta dos Negócios Estrangeiros.

"Sou o ministro dos Negócios Estrangeiros e expressei a minha posição ontem [domingo] à noite. Não tenho nada a acrescentar ao que disse", afirmou.

Antonio Tajani, que sucedeu ao falecido Silvio Berlusconi na liderança do partido fundado por este, o Força Itália, desenvolveu no entanto o seu ponto de vista, observando que "as eleições foram caracterizadas por uma forte pressão, incluindo uma pressão violenta", e recordou que o opositor "Alexei Navalny foi excluído destas eleições através de um homicídio".

"Vimos imagens de soldados nas assembleias de voto. Não me parece que seja uma eleição que respeite os critérios que nós respeitamos", disse.

Conhecido pelas suas posições pró-Rússia, Matteo Salvini -- que no passado já posou para fotografias na Praça Vermelha, em Moscovo, com uma 't-shirt' com a efígie de Vladimir Putin -, tem causado diversos embaraços ao Governo que integra, designadamente em matéria de política externa.

Já no corrente mês, colocou a própria chefe de Governo numa situação embaraçosa, quando enviou, através da rede social X, uma mensagem de felicitações ao previsível candidato republicano às presidenciais norte-americanas Donald Trump por triunfos nas eleições primárias do Partido Republicano, ao mesmo tempo que Meloni estava reunida com o atual Presidente e recandidato ao cargo, Joe Biden, na Casa Branca, em Washington.

A generalidade dos analistas políticos italianos entendeu a atitude de Salvini como uma óbvia manobra de "sabotagem" à chefe da coligação, com a qual disputa, internamente, o mesmo eleitorado.

Meloni não comentou ainda publicamente as eleições russas, mas, desde que assumiu a chefia do Governo, em outubro de 2022, tem defendido de forma veemente o apoio à Ucrânia face à agressão militar russa iniciada em fevereiro do mesmo ano.

Nas eleições presidenciais na Rússia, consideradas uma "farsa" por muitos países ocidentais, Vladimir Putin obteve o seu quinto mandato com mais de 87% dos votos, um número recorde, indicou hoje a Comissão Eleitoral Central da Rússia.

Embora tenha garantido publicamente que não o faria, Putin alterou a Constituição em 2020 para permitir a sua reeleição, o que poderá fazer novamente dentro de seis anos e, assim, permanecer no Kremlin (presidência) até 2036.

Vladimir Putin, que está no poder desde 2000, também ocupou o cargo de primeiro-ministro entre 2008 e 2012.

Leia Também: Putin quer trabalhar com adversários para resolver problemas do país

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