"O Conselho de Segurança deve agora decidir sobre um cessar-fogo imediato e sobre o acesso humanitário. Após o veto da Rússia e da China, há alguns minutos, vamos recomeçar com base no projeto de resolução francês no Conselho de Segurança e trabalhar com os nossos parceiros norte-americanos, europeus e árabes para chegar a um acordo", declarou o presidente francês, Emmanuel Macron, no final de uma cimeira europeia em Bruxelas.
"Temos um projeto de resolução que estamos a reapresentar e a trabalhar com vários parceiros. Este projeto, se for, como começámos a fazer, trabalhado com vários parceiros regionais, em particular do mundo árabe, pode levantar os vetos que foram expressos contra a proposta norte-americana", declarou Macron.
Citando a Jordânia e os Emirados Árabes Unidos (EAU) como parceiros, Macron considerou que o trabalho diplomático efetuado com estes países pode ajudar a "convencer a China e a Rússia a não vetar".
Macron congratulou-se com o facto de os Estados Unidos terem "mudado de posição" e estarem agora "claramente a defender um cessar-fogo".
"Durante muito tempo houve relutância americana. Agora, essa relutância foi levantada e, graças ao que aconteceu nas últimas horas, o nosso texto está agora numa base sólida. É um facto positivo", afirmou.
Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, a 07 de outubro, os norte-americanos opuseram-se sistematicamente à utilização do termo "cessar-fogo" nas resoluções da ONU, bloqueando três textos.
Mas decidiram finalmente submeter hoje a votação um texto que referia "a necessidade de um cessar-fogo imediato e duradouro para proteger os civis de todas as partes, para permitir a prestação de assistência humanitária essencial (...) e, com isto em mente, apoia inequivocamente os esforços diplomáticos internacionais para alcançar esse cessar-fogo em ligação com a libertação dos reféns ainda detidos".
A Rússia e a China vetaram o projeto de resolução proposto pelos Estados Unidos, um texto que recebeu 11 votos a favor, uma abstenção - da Guiana - e três votos contra, entre eles da Rússia e da China, dois membros permanentes do Conselho de Segurança com poder de veto, além da Argélia.
A resolução, proposta após mais de cinco meses de guerra, marcou a primeira vez que os Estados Unidos pediram um cessar-fogo imediato em Gaza no Conselho de Segurança, após terem vetado vários projetos apresentados por outros países.
Contudo, mesmo antes da votação, o embaixador russo junto à ONU, Vasily Nebenzya, já havia sinalizado que iria rejeitar a proposta de Washington, acusando o Governo norte-americano de tentar agradar ao eleitorado com a "menção a um cessar-fogo em Gaza" e de tentar "garantir a impunidade de Israel".
O diplomata russo acusou ainda o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, e a embaixadora norte-americana junto à ONU, Linda Thomas-Greenfield, de "enganar a comunidade internacional".
"Quase seis meses se passaram, Gaza foi praticamente varrida da Terra e, agora, a representante dos Estados Unidos, sem pestanejar, vem afirmar que Washington começou finalmente a reconhecer a necessidade de um cessar-fogo. Este lento processo de pensamento de Washington custou a vida de 32.000 palestinianos pacíficos", criticou Nebenzya, recordando que os norte-americanos vetaram três outras resoluções que exigiam um cessar-fogo no enclave.
Concretamente, a Rússia opôs-se à linguagem usada na resolução, a qual classificaram de "extremamente politizada".
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