DaA eleição de Faye, que hoje completa 44 anos e nunca ocupou antes qualquer cargo eletivo à escala nacional, está a ser descrita como um terramoto político.
Faye tornar-se-á no mais jovem Presidente do Senegal, o quinto da história deste país da África Ocidental com 18 milhões de habitantes.
É a primeira vez, em 12 eleições presidenciais por sufrágio universal, que um candidato da oposição vence à primeira volta.
Este acontecimento é tanto mais marcante quanto a vitória, aparentemente motivada por uma vontade de mudança, se não mesmo de rutura com o passado após anos de dificuldades, deverá ter um grande alcance.
"As pessoas estão sedentas de mudança quando se vê o que está a acontecer neste país em termos de corrupção e desrespeito pela lei, e a pessoa que mais encarna esta mudança é Ousmane Sonko", disse à AFP El Hadji Mamadou Mbaye, professor e investigador na Universidade de Saint-Louis, referindo-se ao principal dirigente da oposição, que apoiou Faye para o substituir depois de ter sido desqualificado das eleições presidenciais.
A vitória de Faye nas eleições de domingo, cujos resultados deverão ser publicados oficialmente dentro de dias, foi hoje confirmada por Amadou Ba, candidato oficial do regime, que o felicitou através de um comunicado.
Amadou Ba admitiu a derrota e telefonou a Faye para o felicitar, e, horas depois, o Presidente em exercício, Macky Sall, divulgou nas redes sociais as suas felicitações ao vencedor.
Faye ainda não fez qualquer declaração pública.
O mandato de Sall termina oficialmente em 02 de abril, mas desconhece-se ainda se a transferência de poder será feita antes dessa data.
Os resultados provisórios publicados nos meios de comunicação social e nas redes sociais colocam o candidato Bassirou Diomaye Faye bem à frente do candidato do Governo e muito à frente dos outros.
Alguns jornais proclamaram imediatamente a vitória de Diomaye Faye nas suas primeiras páginas com o jornal Walf Quotidien a titular "Feliz aniversário, Senhor Presidente".
Uma vitória de Faye, que durante a campanha eleitoral prometeu uma "rutura com o passado", prenuncia uma revisão de longo alcance do sistema político senegalês.
Assumindo-se como o "candidato da mudança de sistema" e de um "pan-africanismo de esquerda", o seu programa enfatiza a restauração da "soberania" nacional, que afirma ter sido vendida a países estrangeiros.
Faye prometeu lutar contra a corrupção e distribuir a riqueza de forma mais equitativa, e comprometeu-se também a renegociar os contratos de exploração mineira, de gás e de petróleo assinados com empresas estrangeiras.
O Senegal poderá começar a produzir gás e petróleo ainda este ano.
O candidato, que beneficiou de uma amnistia que o tirou da prisão, onde cumpria uma pena de 11 meses, a apenas 10 dias da votação, foi votar acompanhado das suas duas mulheres, na aldeia de Ndiaganiao (oeste).
As eleições foram acompanhadas com atenção no estrangeiro, uma vez que o Senegal é considerado um dos países mais estáveis de uma África Ocidental abalada por golpes de Estado.
Dacar mantém fortes relações com o Ocidente, enquanto a Rússia está a reforçar as suas posições na região.
Desde 2021, o Senegal assistiu a vários episódios de agitação provocados pelo impasse entre Ousmane Sonko e o Governo, combinado com tensões sociais.
A pobreza afeta pelo menos um em cada três senegaleses e o desemprego atinge pelo menos 20% da população ativa.
O país mergulhou numa das crises mais graves das últimas décadas quando o Presidente Sall decidiu, em 03 de fevereiro, adiar as eleições presidenciais previstas para três semanas mais tarde.
Em três anos, a agitação causou dezenas de mortes e centenas de detenções.
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