Durante mais de 140 anos, o Mixodectes pungens, que habitou o oeste da América do Norte no início do Paleocénico, permaneceu um mistério.
O pouco que se sabia sobre esta espécie foi obtido sobretudo através da análise de dentes fossilizados e fragmentos de mandíbulas.
O estudo mostra que os adultos de Mixodectes pesavam cerca de 1,3 kg, viviam nas árvores e alimentavam-se principalmente de folhas, noticiou na terça-feira a agência Europa Press.
Mostra também que estes mamíferos arborícolas (uma família extinta conhecida como mixodectídeos) e os humanos ocupam ramos relativamente próximos na árvore evolutiva.
"Um esqueleto com 62 milhões de anos com esta qualidade e integridade oferece novos detalhes sobre os mixodectídeos, incluindo uma imagem muito mais clara das suas relações evolutivas", destacou o coautor do estudo, Eric Sargis, professor de antropologia na Escola de Artes e Ciências de Yale, em comunicado.
CUNY research team unlocks secrets of mysterious 62-million-year-old mammal. In a plot twist straight out of a prehistoric soap opera, a team led by Brooklyn College’s Stephen Chester has dug up the juiciest gossip on Mixodectes pungens, a 62-million-year-old mammal that’s been… pic.twitter.com/WFxWo91Lly
— Nirmata (@En_formare) March 12, 2025
"As nossas descobertas mostram que são parentes próximos dos primatas e dos colugos (lémures-voadores nativos do Sudeste Asiático), o que os torna parentes bastante próximos dos humanos", acrescentou.
O estudo foi publicado na terça-feira na revista Scientific Reports. Stephen Chester, professor associado de antropologia no Brooklyn College, City University of New York, é o principal autor.
O esqueleto foi recolhido na Bacia de San Juan, no Novo México, pelo coautor Thomas Williamson, curador de paleontologia do Museu de História Natural e Ciência do Novo México, sob autorização do Bureau of Land Management federal. Inclui um crânio parcial com dentes, coluna vertebral, caixa torácica, membros anteriores e posteriores.
Os investigadores determinaram que o esqueleto pertencia a um adulto, com cerca de 1,3 kg. A anatomia dos membros e das garras do animal indicam que era arborícola e capaz de se agarrar verticalmente aos troncos e ramos das árvores. Os seus molares tinham sulcos para quebrar material abrasivo, sugerindo que era omnívoro e comia principalmente folhas, pode ler-se no estudo.
"Este esqueleto fóssil fornece novas provas de como os mamíferos placentários se diversificaram ecologicamente após a extinção dos dinossauros", sublinhou Chester, curador afiliado de paleontologia de vertebrados no Museu Peabody de Yale.
"Características como a maior massa corporal e a maior dependência de folhas permitiram que o Mixodectes prosperasse nas mesmas árvores que provavelmente partilhava com outros parentes primatas primitivos", apontou.
Os investigadores repararam que o Mixodectes era bastante grande para um mamífero arborícola da América do Norte durante o início do Paleocénico, a época geológica que se seguiu ao evento de extinção do Cretácico-Paleógeno que exterminou os dinossauros não aviários há 66 milhões de anos.
Por exemplo, o esqueleto de Mixodectes é significativamente maior do que um esqueleto parcial de Torrejonia wilsoni, um pequeno mamífero arborícola de um grupo extinto de primatas chamado plesiadapiformes, que foi descoberto perto dele.
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