Acusado de espionagem, o correspondente do Wall Street Journal, de 32 anos, está detido desde 30 de março de 2023, num caso sem precedentes envolvendo um jornalista estrangeiro desde o fim da União Soviética (URSS), segundo a agência de notícias AFP.
Gershkovich sempre rejeitou firmemente essas acusações, tal como Washington, o seu jornal e as pessoas que lhe são mais próximas.
Na terça-feira, a justiça russa voltou a prorrogar a sua prisão preventiva até 30 de junho, enquanto se aguarda um possível julgamento ou uma troca de prisioneiros entre a Rússia e os Estados Unidos.
Os pais do jornalista puderam falar-lhe brevemente em maio de 2023 numa prisão de Moscovo e, posteriormente, durante uma audiência.
Em dezembro de 2023, a sua família falou com admiração sobre "a sua resiliência e a sua força inabalável", apesar da sua detenção, numa carta aberta publicada pelo Wall Street Journal.
Ao contrário de muitos jornalistas norte-americanos que deixaram a Rússia após a invasão russa na Ucrânia, em fevereiro de 2022, Evan Gershkovich optou por continuar o seu trabalho no país.
Empenhado em descrever a forma como os russos vivenciavam o conflito na Ucrânia, o repórter conversou com parentes de soldados mortos, críticos de Vladimir Putin e analisou os efeitos das sanções na economia russa.
Antes da sua detenção em Ekaterinburg, nos Urais, parecia estar a trabalhar em assuntos delicados: a indústria de armamento russa e o grupo paramilitar Wagner, de acordo com a AFP.
O Kremlin afirmou simplesmente que o jornalista tinha sido apanhado "em flagrante" pelo crime de espionagem. Entretanto, a Rússia nunca forneceu publicamente qualquer prova e todo o processo judicial foi classificado como secreto.
Nos últimos anos, o jornalista, natural de Nova Jersey, distinguiu-se pela determinação em contar a história da Rússia, país onde estão as suas raízes e cujas regras e superstições conhece bem. Os seus pais são judeus que fugiram da ex-URSS no final da década de 1970.
Formado em inglês e filosofia, Evan Gershkovich optou por seguir o caminho oposto dos pais e estabeleceu-se na Rússia.
Em 2017, falando russo perfeitamente, deixou o emprego como assistente editorial no jornal New York Times para ingressar no Moscow Times, o principal meio de comunicação de língua inglesa em Moscovo.
Durante cerca de quatro anos, descreveu a repressão da oposição, os desastres ecológicos, a devastação da Covid-19 e até as tradições russas, como a arte da "bania": a sauna-banho russo, que frequentava assiduamente.
Quando ingressou no escritório da AFP em Moscovo, no final de 2020, Gershkovich continuou essa linha de trabalho, contando a história de um oponente russo em campanha na prisão ou mostrando a vida quotidiana dos bombeiros que lutavam contra os vastos incêndios na Sibéria.
No início de 2022, o jornalista juntou-se ao prestigiado Wall Street Journal, poucas semanas antes do ataque russo em grande escala à Ucrânia.
Respeitado pelos seus artigos, Evan Gershkovich também se distingue nas redes sociais pelo humor mordaz, que continua a manter na prisão, segundo a AFP.
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