A campanha lançou a iniciativa "Viva Kennedy 24" para chegar aos eleitores hispânicos, recuperando um elemento que foi crucial na eleição do seu tio John F. Kennedy em 1960: os clubes "Viva Kennedy", que organizaram e galvanizaram o voto latino em todo o país.
"Questões como salário mínimo e preços acessíveis afetam os eleitores hispânicos de forma desproporcional", afirmou Robert F. Kennedy Jr., num comício que começou com um vídeo dele a falar espanhol. "São temas críticos para a preservação da classe média. Sem ela, não temos democracia".
O evento decorreu na histórica Union Station, na baixa de Los Angeles, e atraiu algumas centenas de apoiantes, muitos dos quais da mesma geração de Kennedy Jr., que recentemente completou 70 anos.
Ao lado de uma banca com comida mexicana, vendiam-se t-shirts a dizer "¡Viva! Kennedy 24", sinalizando a aposta num eleitorado muito importante na Califórnia, onde Kennedy Jr. ainda não garantiu presença no boletim de voto.
Pelo menos um dos presentes aceitou o desafio. Giovani Galarza, até agora eleitor democrata, disse à Lusa que irá votar em Kennedy Jr. nas eleições de novembro, a primeira vez que optará por um independente.
"Ele acredita que o dinheiro que está a ser gasto lá fora deve ser gasto cá", afirmou. "Gosto daquilo que ele representa". Galarza elogiou a carreira do candidato como advogado ambientalista e considerou ser necessário proteger o ambiente dos interesses corporativos. Também salientou a importância do voto latino e a atenção que RFK Jr. lhe está a dar.
De acordo com o Pew Research Center, o número de eleitores hispânicos nos EUA cresceu para 36,2 milhões em 2024, um aumento de 3,9 milhões em relação a 2020. A Califórnia é o estado onde há maior concentração, cerca de 25% do total: são 8,5 milhões. Seguem-se Texas, Florida, Nova Iorque e Arizona.
Marcado para a véspera do feriado dedicado a César Chávez, o comício teve mensagens bilingues e personalidades relevantes para a comunidade. Foi o caso do bispo Juan Carlos Mendez, que liderou a audiência em oração, e da ativista ambiental Martha Futterman, que falou dos problemas com esgotos não tratados que chegam do México a localidades americanas na fronteira.
O ex-responsável da patrulha da fronteira com o México no Arizona Chris Clem transmitiu a mensagem de que a fronteira deve ter "muros altos e portões largos", combinando a segurança com um sistema melhor de imigração legal.
"César queria tornar a fronteira segura, porque sabia que os migrantes sem documentos que estavam a entrar eram presa fácil para patrões sem escrúpulos", disse Robert F. Kennedy Jr., ecoando a sua própria posição sobre a crise da migração: pretende endurecer a segurança na fronteira e reformular o sistema.
Não foi só para latinos que o candidato falou neste comício, mas também para descontentes como Joie, que não quis dar o sobrenome.
"Ele é o único candidato que não foi comprado", disse à Lusa a apoiante, denunciando o sistema de dois partidos que tem governado o país: "Os outros são corruptos. Há várias décadas que não voto em nenhum deles".
A californiana, que pretende voluntariar-se para ajudar RFK Jr. a chegar aos boletins de voto, recusou a ideia de escolher um "mal menor" para Presidente. "Não voto no mal", afirmou.
O momento mais aplaudido do comício foi quando RFK Jr. disse que seria um 'spoiler' para Trump e Biden. "Vou estragar isto para ambos", prometeu.
Um dia antes deste evento, o Partido Democrata da Califórnia anunciou a expansão do programa de ligação aos eleitores hispânicos "VOTA", citando estudos segundo os quais o seu apoio aos democratas está a desvanecer-se.
Nas últimas presidenciais, 59% dos latinos votaram em Biden. A expectativa, em 2024, é de que a participação eleitoral aumente para um recorde de 17,5 milhões de hispânicos.
Leia Também: Kennedy Jr. vai repensar papel dos EUA na NATO se chegar à Casa Branca