Ao final da tarde de terça-feira as agências internacionais avançaram que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) estava a preparar-se para apresentar uma proposta de pacote de apoio de 107 mil milhões de dólares (cerca de 100 mil milhões de euros) para apoiar a Ucrânia ao longo de cinco anos com estabilidade e previsibilidade.
Hoje, à entrada para uma reunião ministerial no quartel-general da organização, em Bruxelas, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, confirmou que ia ser discutido um "quadro financeiro multianual", mas nada disse sobre o valor e sobre a duração deste apoio bilionário.
Acabou por ser a ministra dos Negócios Estrangeiros da Bélgica, Hadja Lahbib, a confirmar pouco depois o valor ao longo de cinco anos avançado no dia anterior.
No entanto, Lahbib advertiu que a Aliança Atlântica tinha de ser cuidadosa para não fazer uma promessa que depois é incapaz de cumprir.
Já o homólogo de Espanha, José Manuel Albares, criticou uma aparente duplicação quando a União Europeia (UE) aprovou no início do ano um apoio de 50 mil milhões de euros entre este ano e 2027 para apoiar a Ucrânia de uma maneira mais previsível e estável.
Dos 27 países da EU, 23 também são parte da NATO e para aprovar o pacote de 50 mil milhões de euros até 2027 houve um processo moroso, de negociações intensas e que foi inicialmente travado pela Hungria.
O pacote proposto por Jens Stoltenberg é mais ambicioso, mas tem de ser consensualizado por 32 países, entre eles os Estados Unidos, que colocaram o apoio à Ucrânia em pausa em detrimento do contexto político interno e do agravamento das tensões no Médio Oriente, e a Turquia, que provou ser capaz de bloquear processos na NATO, como o da adesão da Suécia, que foi 'arrastada' durante meses e só concluída no início de março.
A Hungria também faz parte deste lote e já tem provas dadas de como pode bloquear negociações. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, é a voz mais crítica do apoio à Ucrânia e no final de 2023 chegou a dizer que a estratégia da UE falhou e que era contra continuá-la.
As eleições presidenciais nos Estados Unidos, em novembro, e a perspetiva de um regresso do republicano Donald Trump à Casa Branca também podem complicar as negociações do quadro financeiro multianual de 100 mil milhões de euros.
Donald Trump é um ávido crítico do investimento feito por Washington na NATO e ameaçou, inclusive, sair do bloco político-militar.
O apoio bilionário com previsibilidade e estabilidade para a Ucrânia pode concretizar-se, mas as negociações podem ser conturbadas e acabar por levar à diminuição do seu montante.
Fontes diplomáticas disseram à Lusa que o quadro financeiro multianual apresentado pelo secretário-geral da NATO também tem pode ser considerado uma mensagem política para a Rússia.
Stoltenberg, explicaram, pode querer mostrar ao Kremlin que a NATO está preparada para apoiar ainda mais a Ucrânia e durante um período mais longo.
A ideia coincide com as palavras do secretário-geral de hoje: "Moscovo tem de perceber que não vai conseguir vencer".
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