"Apesar do seu elevado potencial para fazer avançar a prosperidade global, metade dos 75 países mais vulneráveis do mundo estão a enfrentar um alargamento da diferença de rendimento face às economias mais ricas pela primeira vez neste século", lê-se no relatório divulgado pelo Banco Mundial no dia em que começam os Encontros da Primavera, organizados em conjunto com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O documento, com o título 'O grande revés: Perspetivas, Riscos e Políticas nos Países da Associação Internacional de Desenvolvimento' (IDA, na sigla em inglês), lembra que os países beneficiários de empréstimos concessionais por parte do Banco Mundial - do qual a IDA faz parte - representam 25%, ou 1,9 mil milhões, de pessoas no mundo e têm ótimas condições para se desenvolverem.
"São ricos em recursos naturais, têm grande potencial de geração de energia solar, grandes reservas de depósitos minerais que podem ser cruciais para a transição mundial para a energia limpa, mas um revés histórico está em curso", diz o Banco Mundial, salientando que, "entre 2020 e 2024, o rendimento médio por pessoa em metade dos países da IDA tem estado a crescer abaixo dos números das economias ricas, o que alarga o fosso entre os dois grupos", com um em cada três países a ser hoje mais pobre do que era antes da pandemia de covid-19.
"O mundo não pode dar-se ao luxo de virar as costas aos países da IDA", alertou o economista-chefe e vice-presidente sénior do Banco Mundial, Indermit Gill, lembrando que "o bem-estar destes países tem sido crucial para a perspetiva de evolução do bem-estar global" e que três das grandes economias atuais - China, Índia e Coreia do Sul - já foram beneficiários da IDA.
Mais de metade dos países em que o rendimento médio é inferior a 1,31 dólares (1,23 euros), o limiar definido internacionalmente para a pobreza, está na África subsaariana, onde os habitantes de 39 países, incluindo Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, não recebem diariamente este valor como rendimento.
No relatório, que não divulga números específicos por país, o Banco Mundial alerta que o dividendo demográfico, ou seja, a vantagem de a generalidade destes países ter uma população muito jovem, "comporta riscos que têm que ser geridos", a começar pela melhoria das políticas de educação e de saúde, e garantindo que há empregos à espera deste jovens prestes a entrar no mercado laboral.
"Os países vão ter de aplicar reformas de políticas internas ambiciosas e a construção de instituições mais robustas, capazes de gerir melhor as finanças públicas, o que vai requerer um apoio financeiro significativo da comunidade internacional", conclui-se no relatório hoje divulgado em Washington.
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