No âmbito de uma queixa após uma investigação, o jornal francês Mediapart, "forneceu ao Ministério Público de Paris um documento interno dos serviços da ALP com a lista dos cidadãos franceses cujos nomes foram transmitidos às autoridades dos Emirados Árabes Unidos", disse a nova presidente do Mediapart, Carine Fouteau.
A lista de personalidades inclui o antigo candidato presidencial socialista Benoît Hamon, o partido LFI de Jean-Luc Mélenchon, o Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS, sigla em francês), a senadora socialista de Bouches-du-Rhône entre 2008 a 2020, Samia Ghali, um adjunto do representante de Marselha e a ativista antirracista Rokhaya Diallo.
A queixa contra Mario Brero, apresentada em janeiro pelo Mediapart e por um dos seus jornalistas foi remetida para a Brigada de Investigação Criminal Pessoal (BRDP, sigla em francês) com o objetivo de denunciar a recolha ielgal de dados do jornalista "erradamente equiparado a um comunicador da Irmandade Muçulmana e, deste modo, entregue aos serviços secretos dos Emirados", defendeu Fouteau.
"Este caso põe indevidamente em causa a sua segurança e reputação, bem como as do jornal", afirmou, acrescentando que o jornal está "disposto, em princípio, a cooperar com as autoridades judiciais para ajudar a descobrir a verdade e evitar que tais atos se repitam, seja qual for o país".
O caso começou em 2023, quando o jornal francês publicou uma série de artigos em parceria com o consórcio de Colaborações de Investigação Europeias (EIC), acusando Mario Brero e a ALP Services de trabalharem para os serviços secretos dos Emirados.
Segundo o Mediapart, as acusações incluem a transmissão de informações a um agente dos serviços secretos dos EAU, a difusão de informações para prejudicar os adversários do país, a publicação de artigos falsos contra o Qatar e os movimentos ligados à organização islamita Irmandade Muçulmana.
Na Suíça, uma fonte próxima do caso disse à AFP que o Ministério Público Federal suíço estava a investigar Mario Brero e os Serviços da ALP desde dezembro, na sequência de relatórios de vários departamentos governamentais e de queixas do islamólogo Tariq Ramadan e da ministra belga do Clima e do Ambiente, Zakia Khattabi.
A ministra belga nega qualquer ligação com a Irmandade Muçulmana, descartando "alegações fantasiosas e falsas", segundo o seu gabinete.
Na sequência de uma queixa apresentada por uma das principais lobistas do Qatar em França, Sihem Souid, foi aberta uma nova investigação preliminar no final de outubro de 2023, de acordo com o Ministério Público de Créteil.
"Fiquei horrorizada ao saber que os Emirados Árabes Unidos tinham supervisionado uma operação de desestabilização, utilizando uma empresa de inteligência e espionagem para atacar o Qatar através de mim", disse Souid à AFP, denunciando uma "perseguição da (sua) vida privada".
De acordo com o Mediapart, entre 2017 e 2020, a empresa privada suíça enviou aos serviços secretos de Abu Dhabi os nomes de mil europeus e de mais de 400 organizações supostamente ligadas à Irmandade Muçulmana de 18 países europeus, incluindo mais de 200 cidadãos e 120 organizações em França, descrevendo-os falsamente como islamistas próximos da Irmandade Muçulmana.
Os Emirados, tal como muitos outros países da região, classificam a Irmandade Muçulmana como uma organização terrorista.
Contactados pela AFP, nem as autoridades dos Emirados nem o advogado de Mario Brero reagiram às acusações.
Em 2014, Mario Brero foi condenado em França por ter recolhido ilegalmente informações sobre o marido da antiga diretora do grupo nuclear francês Areva, Anne Lauvergeon.
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