País Basco vai a votos. Independentistas disputam vitória pela 1.ª vez

O País Basco, no nordeste de Espanha, tem hoje eleições autonómicas com a vitória a ser disputada pelo Partido Nacionalista Basco (PNV) e, pela primeira vez, pelo EH Bildu, considerado o herdeiro dos braços políticos do grupo terrorista ETA.

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© Arnaitz Rubio/Europa Press via Getty Images

Lusa
21/04/2024 07:14 ‧ 21/04/2024 por Lusa

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Espanha

As sondagens das últimas semanas revelaram um progressivo crescimento do EH Bildu, com vários estudos a colocarem mesmo à frente esta formação independentista de esquerda, embora com uma margem mínima, de entre um e dois pontos percentuais, em relação ao PNV.

O PNV, um partido de centro-direita, foi sempre o mais votado nas eleições regionais bascas e, com a exceção de um período de três anos entre 2009 e 2012, esteve também sempre à frente do governo autonómico.

Esta hegemonia parece agora ameaçada, após mais de 40 anos de democracia e autonomias em Espanha, pelo crescimento do EH Bildu.

O EH Bildu, que nos seus estatutos tem inscrita a condenação da violência com objetivos políticos, nasceu em 2012, com o fim da atividade da ETA, e junta numa plataforma de esquerda partidos independentistas que sempre condenaram a violência e outros considerados herdeiros dos braços políticos do grupo terrorista, contando entre os militantes e dirigentes antigos membros da ETA.

Nascido também no contexto da crise financeira, o EH Bildu assumiu-se logo desde o início, e consolidou-se ao longo destes 12 anos, como um partido com preocupações sociais, relegando para um plano secundário as questões identitárias ou a independência do País Basco.

Nos últimos anos, viabilizou, no parlamento nacional, os Governos espanhóis do socialista Pedro Sánchez e permitiu, com os votos dos seus deputados, a aprovação de medidas para responder aos impactos da pandemia de covid-19 ou da guerra na Ucrânia.

Apesar de, em Madrid, ser de forma recorrente associado à ETA pelos partidos da direita, "a realidade basca não tem nada a ver com a realidade espanhola no que toca às perceções que existem sobre o EH Bildu ou o terrorismo" e, no País Basco de 2024, "99% da sociedade sabe que a ETA não existe e que o EH Bildu não tem nada a ver com a ETA", explicou à agência Lusa o professor de Ciência Política Braulio Gómez, da Universidade de Deusto, em Bilbau.

É assim, acrescentou o académico, que o EH Bildu surge nestas eleições, "pela primeira vez na sua história, como um partido de governo" e como a primeira alternativa real e viável em 40 anos ao PNV, numa região que prefere ser governada por partidos bascos.

Se as sondagens se confirmarem, PNV e EH Bildu conseguirão, no conjunto, perto de 70% dos votos hoje e o próximo parlamento regional será o mais nacionalista da história do País Basco.

No entanto, as questões identitárias e territoriais (reivindicações por mais autonomia ou a independência) estiveram afastadas da campanha eleitoral e, segundo todos os estudos de opinião, o desejo de independência está em mínimos históricos entre os bascos.

Como explicou Braulio Gomez, o País Basco, que tem hoje a menor taxa de desemprego de Espanha e o maior nível de salários, viveu até há pouco tempo com terrorismo em nome de "um conflito territorial", e "sabe o quão importante é a paz" e neste momento ninguém quer ativar ou recuperar esses temas.

Neste País Basco pós-terrorismo não se prevê maioria absoluta de nenhum partido e a chave do poder é do Partido Socialista espanhol (PSOE), que está na atual coligação do governo regional liderada pelo PNV, mas que no executivo central depende tanto do PNV como do EH Bildu.

Os socialistas já disseram que só governam com o PNV, por considerarem que o EH Bildu não fez ainda a "mea culpa" total em relação à ETA.

As últimas sondagens dão uma diferença mínima entre PNV e EH Bildu e os socialistas como terceira força mais votada (com menos de 15%), seguidos pelo Partido Popular espanhol (PP, direita), com menos de 8%.

No parlamento atual há 31 deputados do PNV, 21 do EH Bildu, 10 dos socialistas, seis do Podemos (extrema-esquerda), um do VOX (extrema-direita) e um do Cidadãos (liberal).

Leia Também: Espanha arranca no domingo no País Basco maratona de três eleições

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