ONU "extremamente alarmada" com "espiral perigosa e crescente" na Síria

O enviado da ONU para a Síria admitiu hoje estar "extremamente alarmado" com a "espiral perigosa e crescente" do conflito no Médio Oriente, lamentando que Damasco venha sendo tratada "como uma espécie de espaço onde todos podem acertar contas".

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Lusa
25/04/2024 18:38 ‧ 25/04/2024 por Lusa

Mundo

Síria

Num 'briefing' ao Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) sobre a situação política e humanitária na Síria, Geir Pedersen indicou que, no último mês, o "espetro sombrio do conflito regional pairou mais uma vez sobre a Síria", referindo-se diretamente aos ataques israelitas de 01 de abril às instalações diplomáticas iranianas em Damasco, e aos outros que se seguiram.

"Estou também profundamente preocupado com o próprio conflito na Síria, que continua a prejudicar a vida do tão sofrido povo sírio. (...) Não há sinais de calma em nenhum dos teatros de operações da Síria - apenas conflitos não resolvidos, violência borbulhante e fortes explosões de hostilidades, qualquer um dos quais poderia ser o gatilho para uma nova conflagração", alertou.

"Precisamos de uma desescalada regional, começando com um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza", apelou o enviado, instando todos os intervenientes a exercerem a máxima contenção e respeitarem o direito internacional.

De acordo com enviado especial da ONU, a renovação do Comité Constitucional Sírio - que não se reúne desde junho de 2022 - poderia ser parte do caminho para sair do conflito.

Pedersen assumiu que permanece aberto a qualquer local alternativo a Genebra que atraia consenso.

A Rússia, um aliado próximo da Síria, opôs-se a Genebra como local para essas reuniões, na sequência da imposição de sanções pela Suíça a Moscovo em resposta à invasão da Ucrânia em 2022. 

"Mas, entretanto, continuo a apelar para que as sessões sejam retomadas em Genebra", declarou, perante o corpo diplomático presente na sessão.

Também a situação humanitária na Síria permanece "tão sombria como sempre", assinalou Pedersen, apelando aos doadores, "tanto tradicionais como não tradicionais", para que contribuam generosamente para a resposta humanitária ao país.

A situação na Síria foi especialmente abordada pelo chefe do Escritório da ONU para Assuntos Humanitários (OCHA) em Genebra, Ramesh Rajasingham, que declarou que os acontecimentos das últimas semanas foram um forte lembrete das "implicações devastadoras" que a expansão do conflito regional poderá ter para o povo sírio.

"As necessidades humanitárias na Síria já atingiram níveis recorde e continuam a acumular-se dia após dia. Ao mesmo tempo, a nossa capacidade de ajudar a aliviá-las fica cada vez mais limitada por graves carências de recursos", frisou.

 Além disso, no último mês, os ataques mataram e feriram civis, incluindo crianças, e os trabalhadores humanitários não foram poupados, citando a morte de um funcionário da Organização Mundial da Saúde (OMS) num ataque aéreo.

Rajasingham salientou ainda que, no ano passado, a Síria registou mais vítimas civis resultantes de minas terrestres, resíduos explosivos de guerra e dispositivos explosivos improvisados do que qualquer outro país, uma realidade que representa um grande obstáculo à prestação segura de ajuda.

Este ano, a ONU solicitou quatro mil milhões de dólares (3,7 mil milhões de euros) em financiamento para ajudar o povo da Síria, um valor significativamente menor do que em 2023, apesar do aumento das necessidades.

Segundo o representante do OCHA, algumas das consequências caso o subfinanciamento persista incluem o encerramento de centenas de instalações médicas e serviços móveis de saúde, o que afetaria o acesso a cuidados vitais para milhões de pessoas. 

 Mais de 1,8 milhões de pessoas não terão água potável e milhões em situação de insegurança alimentar moderada correm o risco de ficar sem assistência.

Além disso, muitas das 500.000 crianças em desnutrição aguda poderão perder o tratamento que pode salvar as suas vidas, reforçou.

A guerra na Síria, desencadeada em março de 2011 pela violenta repressão do regime do Presidente sírio, Bashar al-Assad, de manifestações pacíficas, já provocou mais de meio milhão de mortos e obrigou à deslocação de vários milhões de pessoas.

O conflito ganhou ao longo dos anos uma enorme complexidade, com o envolvimento de países estrangeiros e de grupos 'jihadistas', e várias frentes de combate.

Leia Também: Síria neutra para proteger regime de Bashar al-Assad, defendem analistas

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