Este é o episódio mais mortífero no país da África Oriental desde o início da estação das chuvas, que este ano foi amplificada pelo fenómeno meteorológico El Niño.
Hoje, o Governo queniano comunicou que 103 pessoas tinham morrido e mais de 185.000 tinham sido deslocadas em todo o país desde março, mas não mencionou a tragédia da barragem de Old Kijabe em Mai-Mahiu, no Vale do Rift.
Os funcionários da "morgue disseram que tinham 46 corpos" desta localidade situada a cerca de cinquenta quilómetros a noroeste de Nairobi, disse à agência noticiosa France-Presse (AFP) a chefe das operações de salvamento no condado de Nakuru, onde se situa a barragem, Joyce Ncece.
Segundo esta fonte, as vítimas são 29 adultos e 17 crianças.
Situada numa colina, a barragem de Old Kijabe foi formada ao longo de décadas após a construção de uma linha férrea pelas autoridades coloniais britânicas.
No domingo à noite, os seus contrafortes de terra cederam, derramando a água do reservatório adjacente sobre as casas e as estradas, enquanto os residentes dormiam.
"Varreu tudo no seu caminho. Recuperámos alguns dos corpos presos pelas árvores e não sabemos quantos estão debaixo da lama", disse um residente local.
O ministro do Interior, Kithure Kindiki, declarou que o Governo tinha ordenado às autoridades locais que "inspecionassem todas as barragens e reservatórios de água (...) no prazo de 24 horas" e que identificassem as situações que exigiam evacuações.
Nos últimos dias, foram registados vários incidentes deste tipo, informou a AFP, por isso, o ano letivo foi adiado.
"Os efeitos devastadores das chuvas nalgumas escolas são tão graves que seria imprudente arriscar a vida dos alunos e do pessoal antes de serem tomadas medidas de impermeabilização", declarou em comunicado o ministro.
Como reação, o secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou-se hoje "triste com a perda de vidas e os danos causados pelas inundações repentinas" no Quénia e reiterou o "compromisso" da organização "em apoiar o Governo neste momento difícil", disse o seu porta-voz Stéphane Dujarric.
Em vários países da África Oriental as chuvas sazonais estão a ser agravadas este ano pelo fenómeno climático El Niño, que começou em meados de 2023 e pode durar até maio, alertou a Organização Meteorológica Mundial (OMM) em 05 de março.
O El Niño provoca um aumento das temperaturas, mas também secas em algumas partes do mundo e chuvas fortes noutras.
Na Tanzânia, pelo menos 155 pessoas morreram em inundações ou deslizamentos de terras.
No Burundi, um dos países mais pobres do mundo, 96.000 pessoas foram deslocadas devido a meses de chuvas ininterruptas.
Foram igualmente registadas mortes e danos na capital da Etiópia, Adis Abeba (quatro mortes), no Ruanda (duas mortes) e no Uganda (duas mortes).
Na Somália, mais de 124.000 pessoas foram afetadas pelas chuvas sazonais - designadas por chuvas Gu, que ocorrem entre abril e junho, sendo que mais de 5.000 foram deslocadas nos últimos 10 dias e sete crianças morreram, comunicou hoje a ONU.
No fim de semana, as inundações repentinas em Jubaland inundaram estradas e cortaram temporariamente o acesso entre os distritos de Dhobley e Afmadow, afetando cerca de 60.000 pessoas, referiu.
No sul do Chade - país da África Central - as chuvas torrenciais afetaram, desde março, 3.700 pessoas e danificaram casas e escolas nas províncias de Mandoul e Logone Oriental, segundo as autoridades locais.
O setor agrícola também foi afetado, com milhares de sacos de cereais danificados e gado desaparecido.
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