Resiliência dos ucranianos ameaçada por coesão social debilitada

A investigadora Orysia Lutsevych apontou hoje a coesão social como uma das áreas de preocupação quando se fala de resiliência da Ucrânia na guerra com a Rússia, iniciada em 2022, destacando, porém, que os ucranianos continuam determinados e unidos.

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© Wolfgang Schwan/Anadolu via Getty Images

Lusa
30/04/2024 17:55 ‧ 30/04/2024 por Lusa

Mundo

Ucrânia/Rússia

Num debate hoje organizado em Londres, a diretora-adjunta do Programa para a Rússia e a Eurásia e responsável pelo Fórum da Ucrânia do centro de estudos britânico Chatham House alertou para a importância da "proteção dos direitos das minorias vulneráveis, das pessoas afetadas pela guerra, desde os veteranos até às crianças".

"Os conflitos entre os que lutam e os que não lutam, os que estão no estrangeiro e os que estão na Ucrânia é algo que também corre o risco de minar a resiliência ucraniana", acrescentou a investigadora, durante o debate organizado sob o mote "Como reforçar a capacidade de resistência da Ucrânia em tempo de guerra".

Orysia Lutsevych afirmou que "de um modo geral, o objetivo da missão na Ucrânia continua a ser muito forte".

"No ano passado, quando questionámos as organizações não-governamentais (ONG) ucranianas sobre o valor acrescentado da reconstrução da Ucrânia em tempo de guerra, quase 80% afirmaram que se tratava de contribuir para a resiliência e para a coesão social. As pessoas no terreno compreendem que este é um instrumento útil", contou.

Ao nível da governação, os estudos que fez junto dos ucranianos indicam que o combate foi considerado como uma prioridade por 63% dos inquiridos para evitar desperdiçar recursos e aumentar o sentimento de injustiça no país.

A capacidade de continuar a prestar serviços públicos digitais "ajudou os ucranianos em crise e contribui para a resiliência da Ucrânia", frisou a especialista, lembrando, no entanto, que o país tem sofrido em termos económicos devido à dificuldade de escoar os seus produtos.

No debate, e ainda no aspeto económico, foi focado que o Mar Negro continua a ser muito vulnerável em termos de rota de transporte e o ataque deliberado aos caminhos-de-ferro e a outras infraestruturas pelas forças russas está a minar a resiliência económica da Ucrânia.

Outro setor de fragilidade é a defesa contra a guerra de informação, com a investigadora a referir-se ao "impacto corrosivo de algumas das redes sociais".

Uma questão que, segundo a especialista, levanta a necessidade de debate sobre "qual deve ser a política dos meios de comunicação social em tempos de lei marcial, quanta liberdade deve existir, que informação deve ser censurada, que informação deve ser aberta".

Ainda assim, Lutsevych salientou ser "impressionante o facto de 80% dos ucranianos terem uma visão positiva sobre o futuro do país", o que demonstra um espírito moral sólido. 

"Compreendem que o futuro é possível durante a sua vida e isso é um recurso imenso para uma sociedade resiliente", destacou.

A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.

Já no terceiro ano de guerra, as Forças Armadas ucranianas têm-se confrontado com falta de armamento e munições, apesar das reiteradas promessas de ajuda dos aliados ocidentais.

Leia Também: Russo acusado de "desacreditar" o exército por usar cabelo azul e amarelo

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