"A greve não afeta [o Presidente] Milei porque o sindicalismo na Argentina não tem a representação nem o poder que acredita ter. Não têm poder de convocar ninguém, porque encher a Praça de Maio ou a Praça do Congresso [no centro de Buenos Aires] representa apenas 0,2 por cento dos eleitores", afirmou à Lusa o analista político, especialista em opinião pública, Jorge Giacobbe.
"O que vemos nas praças não tem a ver com o que acontece nas casas. Na Argentina, o que acontece em termos de multidão não tem a ver com o que acontece em termos de massas", adiantou.
Para Giacobbe, "Milei não tem rival político de peso" e enfrenta "a capacidade da opinião pública de atravessar o deserto da crise, mas não o sistema político", estando a "angústia das pessoas sem "um nome e um apelido que a represente". "Esta greve é conduzida por pessoas que não têm prestígio na sociedade", afirma.
Com apenas cinco meses de governo, Javier Milei enfrenta a sua segunda greve geral. Nunca antes na história da Argentina um governo teve duas greves gerais em tão pouco tempo. A primeira, em 24 de janeiro, fez de Milei o presidente argentino que mais rapidamente enfrentou uma paralisação.
Por outro lado, Milei ainda não conseguiu aprovar nenhuma lei. Nunca na história, um governo passou tanto tempo sem as ferramentas básicas para governar.
"Este governo teve mais greves do que leis. Vejam o ponto ao que chegamos. Fazem de tudo para não avançar naquilo que as pessoas votaram. É uma situação exótica", observou o porta-voz da Presidência, Manuel Adorni.
Para ter chances de aprovar uma reforma laboral no Congresso, o presidente Javier Milei retirou do texto todos os capítulos que afetavam o financiamento dos sindicatos.
A reforma tornou-se uma mera flexibilização. Mesmo assim, a Confederação Geral do Trabalho (CGT) faz uma greve geral para pressionar o Senado a rejeitar a reforma, já aprovada na Câmara de Deputados. Os sindicalistas também são contra o ajuste orçamental e as privatizações.
Para o governo, a greve é meramente política e não reivindica nenhum aumento salarial.
Os sindicalistas aparecem nas sondagens de opinião pública entre aqueles que pior imagem têm na sociedade. Os principais líderes sindicais estão no cargo há mais de 30 anos, período durante o qual a Argentina viveu uma contínua decadência com empobrecimento e destruição de emprego.
Atualmente, mais de metade dos trabalhadores são informais e 32,5%, por mais empregados que estejam, são pobres, sem conseguir ganhar o suficiente para a cesta básica familiar.
"Aos fundamentalistas do atraso que andam às costas dos trabalhadores, esta administração informa que só vão conseguir o desprezo de todos os que querem e dos que precisam trabalhar", disse Manuel Adorni.
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