Na região de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, alvo desde 10 de maio de uma nova ofensiva russa, "são os mais vulneráveis, os idosos, as viúvas com filhos, as pessoas com deficiência que não têm os recursos nem a capacidade começar uma nova vida noutros pontos do país que hoje sofrem muito", explicou Karolina Lindholm Billing, em entrevista à agência France Presse (AFP), durante uma deslocação a Genebra.
Mais de dois anos após a invasão russa da Ucrânia, a representante lamentou igualmente que a atenção da comunidade internacional tenha diminuído.
"Há muito menos recursos para ajuda humanitária, mesmo quando as necessidades humanitárias aumentam com os desenvolvimentos recentes e são os mais vulneráveis ??que irão suportar o peso desta redução no financiamento e na ajuda", alertou.
O plano humanitário da ONU para 2024 para a Ucrânia ascende a 3,1 mil milhões de dólares (2,5 mil milhões de euros), incluindo 599 milhões de dólares (551 milhões de euros) para o ACNUR.
No entanto, tanto o plano de resposta global como o apelo do ACNUR foram cobertos apenas em cerca de 15% no primeiro trimestre do ano, enquanto este mesmo financiamento atingiu cerca de 30% no mesmo período de 2023, explicou Karolina Lindholm Billing.
"Não é justo", observou, apelando à comunidade internacional "para não parar" de financiar a ajuda humanitária enquanto a guerra continua.
A responsável da agência das Nações Unidas afirmou que aqueles que atualmente fogem do ataque do exército russo na região de Kharkiv, perto da fronteira, são principalmente pessoas idosas, muito vulneráveis.
"Cerca de 10.300 pessoas foram retiradas de cidades localizadas nas zonas fronteiriças onde os russos lançaram a sua ofensiva terrestre, e as evacuações continuam porque ainda restam pessoas", descreveu.
Quase 3,7 milhões de pessoas estão atualmente deslocadas na Ucrânia, segundo o ACNUR.
"Mas aqueles que ainda vivem nestes locais perto da linha da frente são geralmente idosos, 70%-80%, e são eles que estão a chegar agora", insistiu.
"Eles deixaram tudo para trás e é realmente doloroso", comentou a representante, explicando que o ACNUR e os seus parceiros fornecem apoio psicológico, jurídico e financeiro à chegada aos centros de trânsito em Kharkiv, antes de seguirem para os centros de alojamento coletivo.
Muito emocionada, segundo relatou a AFP, Karolina Lindholm Billing disse, mostrando fotos, que alguns desses idosos chegaram apenas com sacos plásticos nas mãos e alguns pertences pessoais, chorando porque tiveram que abandonar os seus gatos.
Estas pessoas estão "extremamente traumatizadas" porque a zona de onde provêm está "vulnerável e exposta desde o início da invasão".
A representante do ACNUR também teme que as Forças Armadas russas estendam a sua ofensiva terrestre à região de Sumi, também no nordeste do país, e à de Donetsk, no leste, deixando novas populações deslocadas.
Lindholm Billing está ainda preocupada com a intensificação dos ataques aéreos russos contra as cidades, receando que a defesa aérea ucraniana não seja suficientemente poderosa para proteger os residentes.
A ajuda humanitária também é importante, explicou, porque o aumento dos ataques russos às infraestruturas energéticas perturba "o acesso à eletricidade, à água e aos serviços básicos", o que aumenta o número de pessoas que podem necessitar de ajuda.
Nos últimos meses, as forças russas têm atacado quase diariamente regiões e cidades da Ucrânia distantes da frente de batalha, usando 'drones' e mísseis teleguiados, que visam particularmente infraestruturas energéticas e causam cortes de energia.
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