"Estamos a viver numa época em que a Europa já não é um continente de paz", disse Zelensky aos deputados da Assembleia Nacional, citado pela agência francesa AFP.
Numa altura em que decorrem eleições para o Parlamento Europeu, Zelensky disse que a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, trouxe "o nazismo (...) de volta à Europa".
Referiu que há cidades e aldeias a ser destruídas e que estão a aparecer novamente na Europa "os campos de filtragem, as deportações e o ódio".
"Há quem procure dividir a Europa. Dizem que este ou aquele povo não merece existir", afirmou, numa alusão ao regime russo do Presidente Vladimir Putin.
A Rússia invadiu a Ucrânia para "desmilitarizar e desnazificar" o país vizinho, que foi um república soviética até se tornar independente em 1991, com o colapso da União Soviética.
"Este regime russo não tem limites. A Europa já não é suficiente para ele", disse Zelensky, citado pelo jornal francês Le Monde.
Zelensky alertou de novo que a Rússia, em sua opinião, não se ficará pela Ucrânia.
"Hoje, é a Ucrânia que está a ser visada, mas, amanhã, poderão ser outros países. Já estamos a ver como esta agressão pode evoluir. Os Estados Bálticos, a Polónia, os Balcãs, entre outros", afirmou.
Putin "já destruiu a Síria, está a perturbar o Sahel [zona africana]", continuou Zelensky, denunciando a utilização de "recursos energéticos e alimentares" que enfraquecem os países.
O líder ucraniano manifestou ainda a esperança de que a cimeira de paz agendada para 15 e 16 de junho, na Suíça, possa aproximar a Ucrânia da paz.
"Esta conferência poderá ser o 'Dia D' da Ucrânia", afirmou, no dia seguinte a ter participado nas comemorações dos 80 anos do desembarque na Normandia, decisivo para a derrota da Alemanha nazi na Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
Perante uma Assembleia Nacional que não estava completamente cheia, Zelensky traçou um quadro negro da situação na Europa, acusando Putin de ter feito os europeus recuar no tempo.
Putin "trouxe à tona todo o arsenal do século passado, desde o bloqueio marítimo até ao rapto em massa das crianças do nosso povo nos territórios ocupados, e está a chantagear o mundo inteiro para que o mundo o tema", denunciou.
Zelensky disse que a Rússia de Putin "é um país onde a vida já não tem qualquer valor", sendo o oposto do que os ucranianos e os europeus aspiram.
"É o oposto da liberdade, o oposto da igualdade e o oposto da fraternidade", disse, citando os valores da Revolução Francesa de 1788-1789.
"Portanto, é o oposto da Europa, é a anti-Europa (...) é isso o que Putin é", defendeu.
O líder ucraniano agradeceu o apoio militar e diplomático da França, e considerou que a vitória contra a Rússia é possível, apesar dos avanços russos na frente.
Alertou, no entanto, que a Ucrânia precisa de mais ajuda, ressalvando não estar a censurar os atrasos e hesitações dos aliados ocidentais, como tem feito, mas por ser "uma questão de como ultrapassar o mal".
"Esta batalha está numa encruzilhada, é o momento em que podemos todos juntos escrever a História a que aspiramos, ou então podemos tornar-nos vítimas da História, como o nosso inimigo - e sublinho o nosso inimigo comum - quer que sejamos", acrescentou.
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