O presidente francês, Emmanuel Macron, falou ao país esta quarta-feira depois da estrondosa dissolução de domingo à noite, dizendo que esta permite "clarificação". "Convocar eleições era a única solução", frisou.
"O voto nas eleições europeias foi claro", afirmou Emmanuel Macron. Para ele, "a conclusão é, antes de mais, sobre a Europa", mas os franceses também "expressaram as suas preocupações sobre questões sociais, imigração e poder de compra".
Por isso, é impossível ficar "indiferente ou surdo". Só a dissolução permitiria "clarificar as coisas", afirmou o Chefe de Estado, justificando a sua decisão no domingo à noite.
Para Macron, "a equação parlamentar estava a tornar-se insustentável". Em sete anos, "foram feitas muitas coisas, tomadas decisões úteis para o país", mas "esta situação tornou a ação menos clara e não nos permitiu construir coligações duradouras", afirma o presidente francês numa declaração ao país onde apontou o dedo à "atitude de alguns deputados do LFI, que criou desordem" na Assembleia Nacional.
"Desde domingo à noite, as máscaras caíram", diz Macron, apontando para "alianças contranatura". "A direita republicana, ou pelo menos o seu líder, fez pela primeira vez uma aliança com a extrema-direita", enquanto a esquerda se aliou à extrema-esquerda, "culpada de antissemitismo e de antiparlamentarismo". Em contrapartida, Emmanuel Macron defende o "bloco republicano", que se situa "no meio".
"Espero que, no momento oportuno, antes ou depois (das eleições), os homens e mulheres de boa vontade que, em conjunto, souberam dizer 'não' aos extremos, se juntem", disse ainda Emmanuel Macron na conferência de imprensa no Pavilhão Cambon Capucines, em Paris.
O Presidente francês deu instruções aos partidos que fazem parte da sua coligação para dialogarem com as outras formações políticas para afastar a extrema-direita, que acusa de defender a exclusão, e a extrema-esquerda, que acusou de antissemitismo e anti-parlamentarismo.
"Não quero dar as chaves do poder à extrema-direita em 2027", afirmou Macron, aludindo à data das próximas eleições presidenciais, tentando defender o seu partido (Renascimento) como a única opção moderada na atual reconfiguração acelerada das alianças entre a esquerda e a direita.
Perante os extremismos, "o bloco central, progressista, democrático e republicano (...) está unido e claro na sua relação com a República, a Europa e as suas prioridades", assegurou.
Note-se que pouco depois de se conhecerem as declarações de Macron, o líder do partido de direita Les Républicains, Eric Ciotti, apelou a "uma aliança" com o partido de extrema-direita RN para as eleições legislativas antecipadas de 30 de junho e 7 de julho em França.
"Precisamos de uma aliança, mantendo a nossa identidade, [...] com o RN e os seus candidatos", declarou Eric Ciotti no canal de televisão TFI, adotando oficialmente uma posição muito controversa no seio do seu próprio partido, herdeiro do movimento 'gaullista'.
O apelo de Ciotti foi já "bem recebido" pela líder da RN, Marine Le Pen, que o considerou "uma escolha corajosa". Le Pen saudou também o que considerou ser "o sentido de responsabilidade" de Ciotti.
"Quarenta anos de um pseudo cordão sanitário, que levou à perda de muitas eleições, estão em vias de desaparecer", declarou à AFP Le Pen, que ao longo da última década iniciou uma estratégia de 'desdemonização' e normalização do seu partido com o LR.
[Notícia atualizada às 12h07]
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