"Homenageamos os milhões de pessoas que, em todo o mundo, se veem obrigadas a fugir da violência e da perseguição. Celebramos a sua notável coragem e capacidade de recomeçar, apesar dos desafios assustadores que enfrentam", declarou Filippo Grandi, citado num comunicado do ACNUR.
O responsável máximo da agência especializada das Nações Unidas emitiu estas declarações em Jamjang, no Sudão do Sul, afirmando: "Raramente o cenário é tão desesperante como no sítio onde me encontro agora".
"Nos últimos meses, cerca de 700.000 pessoas atravessaram o país a partir do vizinho Sudão, fugindo de uma guerra devastadora que lhes tirou as casas, os entes queridos -- tudo", descreveu, precisando que "alguns fugiram do país há muito tempo para escapar à guerra civil do Sudão do Sul [e] agora estão a ser forçados a regressar a um lugar em dificuldades para recuperar de anos de combates e fome" e "outros são sudaneses - professores, médicos, comerciantes e agricultores - que têm agora de enfrentar a vida como refugiados".
Grandi fez questão de sublinhar que "a chegada de refugiados às fronteiras não é apenas um problema dos países ricos, [sendo que] três quartos dos refugiados do mundo vivem em países com rendimentos baixos ou modestos".
"É falso, e irresponsável, afirmar que a maioria [dos refugiados] está a tentar chegar à Europa ou aos Estados Unidos", afirmou.
Segundo o Alto-Comissário, "basta olhar para a tragédia em curso no Sudão: são os vizinhos Sudão do Sul, Chade, Etiópia e Egito que acolhem os sudaneses em fuga ao horror".
"Estes países mostram que a solidariedade é possível, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Saúdo-os por isso. Mas não podem fazê-lo sozinhos. Numa altura de divisões e convulsões, os refugiados - e aqueles que os acolhem - precisam que todos nos unamos", sustentou.
"Vivemos num mundo em que se deixa os conflitos prolongar-se eternamente. A vontade política para resolvê-los parece totalmente ausente, e mesmo quando tais crises se multiplicam, o direito de pedir asilo está ameaçado", observou, acrescentando que, "para piorar a situação, os efeitos globais das alterações climáticas estão a ter um impacto cada vez mais devastador", inclusive no lugar onde se encontra, onde se espera que graves inundações submerjam aldeias e terras agrícolas, "aumentando mais ainda os problemas do Sudão do Sul".
Defendeu, contudo, que "há muitas razões para ter esperança" e que o Dia Mundial do Refugiado "é também um dia para celebrar os progressos alcançados".
Por exemplo, referiu, no Quénia, "um novo e arrojado plano de desenvolvimento transformará os antigos campos de refugiados em povoações, onde os refugiados terão mais oportunidades de progresso e pleno acesso a uma série de serviços"; na Colômbia, "o ACNUR está a apoiar um sistema governamental para incluir quase 2,3 milhões de venezuelanos no mercado de trabalho"; e na Ucrânia, ajudou "a construir uma plataforma que apoia as pessoas que estão a regressar cautelosamente ao país para reparar ou reconstruir as suas casas".
Para Filippo Grandi, "esta abordagem a longo prazo é fundamental - ações sustentáveis nos domínios da educação, energia, segurança alimentar, emprego, habitação e outros, em colaboração com os Estados, os parceiros de desenvolvimento e outros".
"Não deixemos os refugiados no limbo; em vez disso, demos-lhes a oportunidade de usarem as suas competências e talentos e contribuírem para as comunidades que os acolheram", vincou.
Na sua opinião, "devem também existir formas seguras e legais de os refugiados se estabelecerem noutros locais, seja através de vistos de trabalho, bolsas de estudo ou reinstalação noutro país", porque sem tais opções, "mais pessoas recorrerão a traficantes, numa busca desesperada por esperança e oportunidade".
É claro, acrescentou, que "tudo isto exige investimento", explicando que "o financiamento internacional destinado a ajudar as pessoas que fogem da guerra no Sudão e a permitir que as autoridades locais e as comunidades de acolhimento expandam as infraestruturas, os campos e os serviços, tem sido insuficiente" e que, "a nível mundial, muitas outras crises são igualmente negligenciadas".
Por ocasião do "Dia Mundial do Refugiado, como todos os dias, todos nós podemos fazer mais para mostrar solidariedade para com os refugiados e trabalhar para um mundo em que eles sejam bem-vindos ou possam regressar a casa em paz", exortou Grandi, concluindo: "Com coragem, empenho e compaixão, as soluções estão ao nosso alcance".
Também o Papa Francisco aproveitou o facto de se assinalar na quinta-feira o Dia Mundial do Refugiado para emitir hoje um apelo aos Estados para que "trabalhem para garantir condições humanas aos refugiados e facilitar os processos de integração".
No final da audiência geral realizada na Praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa recordou a data proclamada em 2000 por uma resolução da Assembleia-Geral da ONU, pedindo que "seja uma ocasião para dirigir um olhar atento e fraterno a todos aqueles que são obrigados a fugir das suas casas em busca de paz e segurança".
"Todos somos chamados a acolher, promover, acompanhar e integrar aqueles que batem à nossa porta", sublinhou, acrescentando: "Rezo para que os Estados se esforcem por garantir condições humanas aos refugiados e por facilitar os processos de integração".
De acordo com o último relatório do ACNUR, o número de refugiados e de outras pessoas com necessidade de proteção internacional atingiu 43,4 milhões.
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