Num relatório hoje publicado referente às maiores preocupações da ECRI em 2023, a organização do Conselho da Europa defende o "combate ao aumento do antissemitismo na Europa em resultado do atual conflito no Médio Oriente", apelando também aos governos para que tomem "medidas resolutas contra o racismo e a discriminação antimuçulmana em todo o continente".
Na análise referente a 2023, a ECRI recorda também a pressão social causada pelas "pessoas deslocadas pela guerra e outras emergências", como são o caso dos refugiados ucranianos.
A ECRI recorda que a "guerra de agressão em curso da Federação Russa contra a Ucrânia fez com que vários milhões de ucranianos deslocados continuassem a procurar proteção e apoio em toda a Europa, numa situação de vulnerabilidade e receio pelo seu futuro".
Mas esta instabilidade também afeta os "cidadãos russos que fogem do serviço militar obrigatório ou da perseguição política, nomeadamente por terem tomado posição contra a invasão em grande escala da Ucrânia".
Também, "num período muito curto, mais de 100 mil arménios de Karabakh fugiram das suas casas e dirigiram-se para a Arménia em resultado da operação militar do Azerbaijão na região em setembro de 2023", recorda a ECRI.
Numa análise às respostas dos países, a ECRI "observa casos recorrentes de discrepâncias de tratamento entre diferentes grupos com base na sua etnia, nomeadamente em relação aos ciganos com cidadania ucraniana".
Além disso, "foram igualmente observadas diferenças significativas entre a qualidade dos centros de acolhimento e dos serviços prestados às pessoas deslocadas da Ucrânia em comparação com os refugiados e outras pessoas que beneficiam de proteção internacional provenientes de outros países e continentes".
Para a organização, "enquanto não estiverem reunidas as condições para o regresso, em segurança e dignidade, das pessoas deslocadas que desejam regressar à sua terra natal, os estados de acolhimento devem desenvolver políticas a mais longo prazo para garantir o acesso adequado à habitação, ao emprego, à educação, aos cuidados de saúde e aos serviços sociais".
A operação israelita em Gaza, na sequência do ataque do Hamas, levou ao registo de "níveis crescentes de antissemitismo" em vários países europeus.
"Os atos antissemitas abrangeram uma vasta gama de incidentes, desde discursos de ódio, tanto em linha como fora de linha, a atos de vandalismo e ataques físicos contra judeus", alerta a ECRI.
"Embora as críticas a Israel não possam ser consideradas, por si só, antissemitas, o apelo ao assassinato de judeus é-o", destaca a ECRI.
Em paralelo, a organização registou um aumento de "incidentes de ódio contra os muçulmanos".
"Os muçulmanos foram culpados pelo ataque e por outros ataques no Médio Oriente, com base em estereótipos de comunidades inteiras e nas suas ligações com o uso da violência" e, no contexto eleitoral, "houve vários casos em que o discurso público utilizou a ameaça da chamada islamização das sociedades europeias para obter ganhos políticos", pode ler-se no relatório.
A criação de leis ou políticas antiterroristas tem sido vista pelo ECRI como um "impacto negativo" na comunidade muçulmana.
"As pessoas que usam símbolos religiosos visíveis ou vestuário tradicional foram por vezes representadas como estando associadas ao terrorismo ou ao extremismo", pode ainda ler-se no relatório.
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