Em abril de 2016, Macron, ex-banqueiro e ministro da Economia do socialista François Hollande, fundou o seu próprio movimento político, A República Em Marcha (LREM, sigla em francês), que se apresentava como uma alternativa centrista, pró-europeia e com reformas económicas e sociais.
Na altura, Emmanuel Macron venceu a segunda volta das eleições presidenciais com 66% dos votos contra Marine Le Pen, líder do partido de extrema-direita Frente Nacional, atual União Nacional (RN), e a sua vitória foi vista como uma rejeição do populismo de extrema-direita e um sinal de apoio às suas propostas.
No seu segundo mandato de cinco anos após ter sido reeleito em 2022, Macron não consegue cumprir a promessa que fez de unir a nação, já que são vários os momentos que marcaram o seu distanciamento de parte da população francesa.
Cronologia dos principais momentos do afastamento de Macron dos franceses:
2017
- Reforma laboral
No início do seu mandato, Macron introduziu reformas controversas, como a flexibilização das leis do trabalho, a facilidade de despedimentos e alteração da carga horária, alargamento da idade da reforma e do modelo geral de 35 horas de trabalho semanal, contra os interesses dos trabalhadores e sindicatos.
2018
- Reforma na educação
As mudanças no sistema educacional e de financiamento das universidades geraram descontentamento entre estudantes e professores, que viam as reformas como uma mercantilização da educação e uma ameaça à igualdade de oportunidades no acesso ao ensino superior.
2018-2019
- Movimento dos "coletes amarelos"
Em 17 novembro de 2018, começou um dos maiores desafios de Macron, o movimento dos "coletes amarelos" - assim chamado pela indumentária adotada nas manifestações-, em resposta ao aumento dos impostos sobre os combustíveis, que rapidamente se transformou num movimento mais amplo contra a desigualdade económica e social.
Milhares de manifestantes saíram às ruas em protestos, muitas vezes violentos, contra as políticas do governo, acusando o chefe de Estado de ser elitista e desconhecer a realidade da população.
As medidas de repressão policial, amplamente criticadas, foram consideradas autoritárias e repressivas.
2019-2020
- Reforma das pensões
A tentativa de reformar o sistema de pensões, com a reformulação dos 42 regimes de reforma num só sistema universal de pensões que tinha por base um sistema de pontos, desencadeou greves e manifestações maciças em todo o país.
As greves prolongadas, especialmente no setor de transporte, paralisaram partes do país e aumentaram a perceção de que Macron estava em confronto direto com os interesses dos trabalhadores.
2020-2021
- Lei de Segurança Global
A proposta de lei, que incluía medidas como a proibição de filmar e transmitir imagens da polícia, foi alvo de uma grande oposição e de manifestações, pela liberdade civil e pela população que já se mostrava revoltada pela violência policial.
- Gestão da Pandemia de COVID-19
A resposta do Estado francês à pandemia foi vista como autoritária e mal comunicada, com medidas como os confinamentos, a implementação do passe sanitário e a campanha de vacinação obrigatória para certos trabalhadores.
2021
- O caso "Benalla"
Em 2021, o antigo guarda-costas e conselheiro de segurança de Emmanuel Macron, Alexandre Benalla, foi julgado na sequência de um incidente ocorrido em maio de 2018, quando foi filmado a agredir manifestantes, acabando condenado a uma pena de prisão domiciliária.
O caso tomou grandes proporções e suscitou críticas da oposição e de uma comissão de senadores, que argumentaram que Benalla tinha beneficiado de uma "indulgência incompreensível" por parte do Eliseu.
2023
- Lei anti-separatismo
As alterações à lei, motivadas pela preocupação com possíveis abusos ligados a ideologias separatistas, visavam dificultar a opção dos pais optarem pelo ensino doméstico para os seus filhos.
2024
- Ucrânia
Mais recentemente, o chefe de Estado francês defendeu a possibilidade de enviar tropas terrestres ocidentais para a Ucrânia no caso da Rússia "romper as linhas da frente", o que provocou objeção pela maioria dos franceses, que temem repercussões por parte da Rússia e defendem que Macron está mais preocupado com a questão europeia do que com o seu país.
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