Protestos contra extrema-direita em várias cidades em França. Eis o vídeo
O partido de extrema-direita francês Rassemblement National (RN) liderou a primeira volta das eleições legislativas com cerca de 33% dos votos dos eleitores.
© DIMITAR DILKOFF/AFP via Getty Images
Mundo Eleições em França
Após os resultados da primeira volta das eleições legislativas em França, em que o partido de extrema-direita francês Rassemblement National (RN) liderou com cerca de 33% dos votos, segundo as projeções divulgadas pela BFMTV, foram convocados protestos para a noite deste domingo para "dizer não à extrema-direita" com a presença de milhares de apoiantes da coligação de esquerda.
Pelo menos 4.000 pessoas estiveram presentes na Praça da República, em Paris, segundo uma fonte policial em declarações ao jornal Le Parisien, numa manifestação convocada pela Nova Frente Popular (Nouvelle Union Populaire, em francês), tendo contado com intervenções de dirigentes de todos os partidos, entre os quais o líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, e o secretário nacional do PS francês, Olivier Faure.
A oposição ao partido liderado por Jordan Bardella reuniu-se às 21h00 (20h00 em Lisboa) na praça parisiense, com várias alusões aos anos 1940, pedindo ao presidente francês que clarifique a sua posição e apele sem ambiguidades a uma "frente republicana".
Vídeos publicados nas redes sociais - que pode ver na galeria de imagens acima - revelam que existiram ainda manifestações nas cidades Lyon, Rennes e Estrasburgo.
Em Lyon, os manifestantes também se reuniram na Place des Terreaux, antes de prosseguirem a sua marcha pela restante cidade, onde se registaram confrontos entre populares - que montaram barricadas e dispararam morteiros - e a polícia em plena via pública, reporta o Actu Lyon.
"Já não há, neste país, escapatória a uma escolha fundamental. É agora o momento: somos nós ou eles, não há nada no meio. E não estamos aqui só para fazer barragem, estamos aqui porque queremos mudar tudo", exclamou Jean-Luc Mélenchon na reta final da manifestação, provocando um longo aplauso das pessoas que o estavam a ouvir.
Com bandeiras da coligação, da Palestina, ou com o arco-íris representativo do movimento LGBT, milhares de manifestantes foram entoando cânticos como "não queremos fachos", "siamo tutti antifascisti", "no pasarán" ou a música Bella Ciao.
À Lusa, Raphaël, de 23 anos, disse que ficou "muito triste" com os resultados desta noite porque, apesar das sondagens, "o que era uma mera vertigem tornou-se realidade e a extrema-direita nunca esteve tão perto no poder desde o Pétain", general que implementou o regime de Vichy, que colaborou com a Alemanha nazi durante a Segunda Guerra Mundial.
Refutando a ideia de que a França "nunca experimentou" a extrema-direita no poder, vários manifestantes levaram para a Praça da República cartazes ou bandeiras alusivos à Segunda Guerra Mundial, entre os quais Maxime, de 24 anos, que empunhava uma bandeira de França com a Cruz de Lorena no meio.
"É o símbolo da resistência, sob o qual coligaram-se comunistas, 'gaulistas' para liberar a França do regime de Vichy, para lutar contra o fascismo e os nazis, e hoje parece-me que a União Nacional são os herdeiros de Pétain. Portanto, estamos numa situação histórica e parece-me que este símbolo tem toda a razão de ser atualmente", disse.
Na senda dessa resistência dos anos 1940, que juntou personalidades de esquerda e do centro-direita, foram várias as personalidades que, esta noite, pediram aos partidos que compõem a coligação presidencial para retirarem as suas candidaturas nos casos em que tenham ficado em terceiro lugar e apelem ao voto na esquerda para derrotar a extrema-direita.
"Hoje, ouvimos muitos dirigentes do 'macronismo' a exprimirem-se e continua a ser tudo muito confuso, continua a ser muito confuso para pessoas que, ainda assim, beneficiaram dos vossos votos em 2017 e 2022, porque foram vocês que impediram a eleição da Le Pen nas presidenciais, porque fizeram o esforço para ir votar neles", disse aos manifestantes o secretário nacional do PS francês.
Salientando que, até agora, "está tudo em aberto em França", Jeff, de 67 anos, disse à Lusa que o facto de existirem 300 a 390 círculos eleitorais onde haverá três candidatos a disputar a eleição abre a possibilidade de "uma reação antifascista" em todo o país.
"A esquerda já pediu aos seus eleitores para que, a partir do momento em que estiver em terceiro lugar, desista a favor de um partido republicano, contra o fascismo. Enquanto a direita, até agora, ainda não deu qualquer sinal. Portanto, é muito ambíguo", afirmou, em sintonia com a secretária nacional do partido Europa Ecologia Os Verdes (EELV), que considerou que as eleições estão agora nas mãos "dos partidos no Governo".
"Nenhum líder de um partido centrista deve faltar à chamada. Reclamam-se humanistas, democratas, republicanos: é agora que vamos ver se são verdadeiramente ou não! Que venham e nos ajudem a construir uma nova frente republicana à volta do nosso programa", apelou a líder ecologista.
Já o coordenador da França Insubmissa Manuel Bompard considerou "inaceitável" que se estabeleça uma equivalência entre a União Nacional e o seu partido e, numa noite em que a extrema-direita obteve o seu melhor resultado de sempre em eleições legislativas, deixou uma mensagem que resumiu o estado de espírito dos manifestantes.
"Hoje, o nosso estado de espírito não é de alegria, mas também não é de tristeza. Hoje o estado de espírito tem de ser de combate, de batalha, para que, em cada círculo eleitoral, cada casa, empresa ou serviço público, vamos buscar os eleitores e, daqui a uma semana, inflijamos uma derrota à União Nacional", disse.
De recordar que o partido de extrema-direita União Nacional (RN), de Marine Le Pen e seus aliados, está na frente na primeira volta das eleições legislativas francesas, com mais de 34% dos votos, de acordo as primeiras projeções.
A extrema-direita está nesta fase à frente da aliança de esquerda Nova Frente Popular, que segundo as sondagens à boca das urnas contará com um resultado entre 28,5% e 29,1%. A uma distância ainda maior está o partido do campo do Presidente Emmanuel Macron (20,5% a 21,5%).
De notar ainda que a participação terá atingido entre 65,8% e 69%, o valor mais elevado numa primeira volta nas eleições legislativas desde 1981, um sinal do grande interesse que gerou entre os franceses.
A elevada participação dos eleitores parece refletir o ambiente de grande agitação face às sondagens que apontam para uma vitória da União Nacional (RN, extrema-direita) de Marine Le Pen e Jordan Bardella.
[Notícia atualizada às 23h40]
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