A confirmar-se a maioria absoluta esmagadora do Partido Trabalhista britânico que as sondagens das últimas semanas preveem, o Partido Conservador sofrerá uma derrota histórica e Rishi Sunak poderá mesmo não ser reeleito deputado, algo inédito.
As votações decorrem na quinta-feira, 4 de julho.
Na reta final da campanha eleitoral das eleições antecipadas, eis alguns pontos essenciais sobre incógnitas que poderão marcar a noite de trabalhistas e conservadores.
Os possíveis 'momentos Portillo'
Em 1997, o então ministro da Defesa Michael Portillo perdeu o lugar para um candidato trabalhista desconhecido, sintetizando o efeito da vitória de Tony Blair.
Segundo o jornal Daily Telegraph, 75% dos membros do atual governo enfrentam o mesmo destino, naquilo que a imprensa batizou de "banho de sangue eleitoral" no Partido Conservador.
As várias sondagens projetaram que os 'tories' (conservadores) poderão perder perto de 300 dos 345 lugares que tinham quando o parlamento foi dissolvido, em 30 de maio.
O primeiro-ministro, Rishi Sunak, no círculo de Richmond and Northallerton, Yorkshire, no norte de Inglaterra, é um daqueles em perigo de perder o assento na Câmara dos Comuns, apesar de ter ganho em 2019 com quase 64% dos votos.
Além do avanço do Partido Trabalhista, que elegeu o Presidente da Câmara Municipal de North Yorkshire, em maio, Sunak poderá ser vítima da fragmentação do voto da direita pelo Partido Reformista.
Seria a primeira vez que um chefe de Governo britânico em funções não conseguiria ser reeleito deputado.
Outros "barões" conservadores em risco são o ministro das Finanças, Jeremy Hunt, a ministra dos Assuntos Parlamentares, Penny Mordaunt, o ministro da Defesa, Grant Shapps, ou a antiga primeira-ministra Liz Truss.
Impacto do conflito em Gaza
O descontentamento dos eleitores muçulmanos tradicionalmente fiéis ao Partido Trabalhista devido à demora do 'Labour' em pedir um cessar-fogo na Faixa de Gaza ficou evidente com a eleição de George Galloway na eleição parcial de Rochdale, em fevereiro.
O Partido dos Trabalhadores do Reino Unido (Workers Party of Great Britain) fez uma campanha centrada no conflito e na defesa dos palestinianos, o que poderá custar aos trabalhistas muitos votos de cidadãos originários do Paquistão e do Bangladesh.
A falta de reconhecimento a nível nacional é um problema, agravada pela reduzida cobertura mediática e a ausência nos debates televisivos. O partido de extrema-esquerda nem sequer aparece nas sondagens.
No entanto, mesmo que não eleja nenhum deputado, pode desviar alguns votos destinados aos trabalhistas.
Jeremy Corbyn
O antigo líder Jeremy Corbyn foi expulso do Partido Trabalhista em 2020 por não aceitar as conclusões de um relatório sobre a disseminação interna do antissemitismo durante a sua direção.
Corbyn decidiu candidatar-se na mesma como independente no círculo de North Islington, norte de Londres, o qual representa desde 1983, tendo sido reeleito em 2019 com 64,3% dos votos.
Esta eleição é um exemplo de circunscrições eleitorais onde o Partido Trabalhista vai enfrentar antigos militantes da ala esquerda que concorrem contra o 'Labour', como Faiza Shaheen em Chingford and Woodford Green, nordeste de Londres.
A ambição de Nigel Farage e as expetativas de outros partidos
A vitória do Partido Trabalhista é o cenário provável das eleições legislativas britânicas, mas outros partidos também têm expetativas elevadas, incluindo a eleição de Nigel Farage e a ascenção dos Liberais Democratas.
Com os trabalhistas de Keir Starmer folgadamente à frente dos conservadores de Rishi Sunak nas últimas sondagens, eis alguns pontos essenciais sobre as perspetivas dos restantes partidos:
Ambição do Partido Reformista
O anúncio da candidatura de Nigel Farage em Clacton-on-Sea dias antes do prazo foi, provavelmente, o momento mais surpreendente desta campanha.
Conhecido por "senhor Brexit" pela influência que teve na saída do Reino Unido da União Europeia, Farage assumiu o objetivo de superar os conservadores para liderar a oposição a um governo trabalhista.
O objetivo a longo prazo do Partido Reformista (Reform UK) é liderar a direita política britânica, como os reformistas canadianos fizeram no início do século.
As sondagens têm variado, com intenções de voto que subiram até aos 19%, acima dos 'tories' e dos Liberais Democratas, mas o funcionamento do sistema de eleição por maioria simples ("first-past-the-post") poderá resultar em menos deputados do que os rivais.
O avanço do partido de direita radical, cuja principal política é restringir a imigração, foi interrompido quando Farage disse numa entrevista que a invasão russa da Ucrânia foi provocada pelo ocidente e defendeu Vladimir Putin, atraindo críticas generalizadas.
A credibilidade do Reform UK também foi manchada por membros associados à extrema-direita ou por fazerem comentários racistas e misóginos.
Recuperação dos Liberais Democratas
Não se espera de Ed Davey o mesmo impacto que Nick Clegg teve nas eleições de 2010, quando o desempenho do partido garantiu a entrada para o governo em coligação com os conservadores.
Mas algumas sondagens projetaram o regresso dos Liberais Democratas ao pódio dos partidos com representação parlamentar no terceiro lugar e, num caso, segundo lugar.
O líder do partido centrista protagonizou algumas ações de campanha mediáticas, que incluiram Davey a cair de uma prancha num lago para denunciar a poluição da água ou descer num escorrega gigante para alertar para a saúde mental.
Os "Lib Dems" têm vindo a ganhar terreno sobretudo em áreas rurais com eleitores conservadores insatisfeitos e poderão beneficiar de alguma votação tática de eleitores trabalhistas para evitar que candidatos do governo ganhem.
Verdes em suspenso
O partido dos Verdes tem como ambição subir de um para quatro deputados, procurando capitalizar o sucesso ao nível local dos últimos anos e o desejo de muitos eleitores por uma alternativa de esquerda.
A única deputada "verde" durante 14 anos, Caroline Lucas, não se vai recandidatar, mas o partido espera manter o assento de Brighton Pavilion, onde concorre a antiga líder, Sian Berry, e ganhar o de Bristol Central, onde é candidata a co-líder Carla Denyer.
No entanto, o partido, cuja popularidade nas sondagens se fica pelos 5%, é refém do sistema de votação de maioria simples, que normalmente favorece os grandes partidos.
Descida do SNP
O Partido Nacionalista Escocês (SNP) dominou a política regional nos últimos quinze anos, mas as sondagens sugerem que deverá perder para o Partido Trabalhista, o mais votado da Escócia até 2010.
O partido foi enfraquecido pela demissão, no ano passado, da carismática primeira-ministra Nicola Sturgeon, devido a uma investigação policial sobre finanças partidárias e suspeitas sobre o marido, antigo funcionário.
O SNP continua a querer forçar Londres a aceitar um novo referendo sobre a independência, apesar de esta causa ter perdido muitos apoiantes, que querem que o governo regional se concentre nos problemas da saúde e custo de vida.
A última votação, em 2014, foi ganha pelo "não" por 55%, mas os independentistas argumentam que o 'Brexit' votado em 2016, ao qual os escoceses se opuseram de forma esmagadora, mudou as circunstâncias.
Os trabalhistas opõem-se firmemente à independência da Escócia, tal como os conservadores.
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