Numa conferência de imprensa no final do segundo dia da cimeira da NATO, em Washington DC, o secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg, foi questionado sobre preocupações que os Estados-membros possam ter manifestado sobre um eventual regresso de Trump à Presidência, tendo advogado que a NATO é a Aliança de maior sucesso na história porque foi capaz de se manter fora de "debates políticos domésticos".
Como exemplo de várias preocupações semelhantes que foram levantadas ao longo dos anos, desde a criação da NATO, o secretário-geral mencionou Portugal, onde também, após o período ditatorial, a continuidade do apoio à NATO chegou a ser questionada.
"Tivemos muitos exemplos de preocupações levantadas por eleições que poderiam levar a uma redução do apoio à NATO. Acabei de ler um artigo sobre quando apareceu um novo Governo em Portugal em 1975, depois de anos de ditadura, quando se registaram preocupações de que este Governo não apoiasse a NATO", referiu, antevendo que os Estados Unidos se manterão igualmente na NATO e continuarão a apoiar a aliança, independentemente de quem for o Presidente.
A performance do Presidente norte-americano, Joe Biden, ao longo da Cimeira da NATO tem estado a ser observada atentamente, em Washington e um pouco por todo o mundo. A comunicação social norte-americana dedicou na quarta-feira mais tempo de antena à discussão sobre as eleições de novembro do que à reunião que marca os 75 anos da Aliança Atlântica.
A prestação débil do democrata num debate com Donald Trump lançou um coro de apelos para que seja encontrado um novo candidato presidencial, o que o atual Presidente rejeita, motivando na terça-feira um inédito apelo do conselho editorial do jornal The New York Times ao Partido Democrata para que promova um novo candidato às presidenciais de novembro.
Também na quarta-feira, Nancy Pelosi, antiga Presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos e uma das principais figuras do Partido Democrata, sugeriu que Biden deveria repensar a sua candidatura.
Na Cimeira, Biden procurou mostrar resultados, destacando a evolução da NATO ao longo do seu mandato.
"Estamos mais fortes do que nunca desde que assumi o cargo", disse Biden, que chegou ao poder em janeiro de 2021 e saudou tanto a incorporação da Suécia e da Finlândia, como o número de aliados (23 de um total de 32 Estados-membros) que gastam os 2% na Defesa.
Um aumento que "não foi por acaso, mas por opção", destacou num discurso no arranque da sessão plenária do Conselho do Atlântico Norte, o mais alto órgão político da Aliança Atlântica.
A declaração final da cimeira da NATO sublinha que mais de dois terços dos aliados gastam anualmente pelo menos 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB) na defesa, frisando ser necessário superar essa fasquia para "remediar atuais insuficiências".
"Os aliados estão a redobrar os seus esforços neste sentido: as despesas com a defesa dos aliados europeus e do Canadá aumentaram 18% em 2024, o que representa o crescimento mais forte em décadas. Além disso, estão a investir mais em capacidades modernas e a aumentar as suas contribuições para as operações, missões e atividades da NATO", refere o comunicado.
Ainda assim, o Conselho defende que "será necessário dedicar mais de 2% do PIB em gastos com a defesa para remediar as atuais insuficiências", alegando que os desafios que se colocam à Aliança exigem mais investimento.
Como esperado, a ofensiva russa contra a Ucrânia foi tema central da cimeira da NATO, com os aliados a prometerem um mínimo de 40 mil milhões de euros para apoiar em 2025 o esforço de guerra de Kyiv, declarando um "caminho irreversível" para a adesão da ucraniana.
Antes, Jens Stoltenberg aproveitou para defender a adesão da Ucrânia à Aliança Atlântica em caso de cessar-fogo no atual conflito, para evitar futuras agressões da Rússia.
"Se houver agora um novo cessar-fogo, um novo acordo, temos que estar 100% seguros de que [a Rússia] se detém ali, independentemente de onde estiver essa linha", indicou Stoltenberg durante o Fórum Público paralelo à Cimeira da NATO, que termina na quinta-feira com a reunião do Conselho NATO-Ucrânia.
Destoando da unanimidade, o ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro, Peter Szijjarto, qualificou de "irrealista" uma futura adesão da Ucrânia à NATO, considerando que provocaria uma "ameaça de guerra" com a Rússia.
"Estão a tentar planear a aproximação da Ucrânia à NATO de tal forma que toda a gente com bom senso sabe que a adesão do país está fora de questão no futuro", afirmou o responsável, segundo o jornal diário Magyar Hirlap.
Depois do anúncio, na terça-feira, do envio de cinco sistemas de defesa aérea para a Ucrânia, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, anunciou que os países da NATO iniciaram a transferência de aviões de combate F-16 para a Ucrânia, a fim de fortalecer a defesa deste país contra a Rússia.
"Tenho o prazer de anunciar que, neste momento, a transferência de aeronaves F-16 está em andamento, da Dinamarca e dos Países Baixos", disse Blinken à margem da cimeira da NATO em Washington.
Na capital norte-americana, os líderes da NATO denunciaram o apoio de Pequim ao esforço de guerra russo na Ucrânia.
"O aprofundamento da parceria estratégica entre a Rússia e a China, bem como as suas tentativas combinadas de desestabilizar e remodelar a ordem internacional baseada no direito, suscitam profundas preocupações", refere a declaração final do Conselho do Atlântico Norte .
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