As afirmações de Xi foram publicadas pelo principal jornal teórico do Partido Comunista (PCC) numa altura em que decorre em Pequim o terceiro plenário do 20º Comité Central, o órgão máximo dirigente do país, composto por líderes do governo, exército e de nível provincial.
Desde 1978, este encontro ditou reformas significativas na orientação económica do país. A atual edição ocorre num período de dados económicos negativos - deflação, crise imobiliária, níveis elevados de endividamento dos governos locais ou altas taxas de desemprego jovem -- e após uma campanha regulatória que abalou a confiança do setor privado.
No artigo difundido pelo jornal Qiushi, sob o título "Manter a autoconfiança e a autossuficiência", Xi apelou aos membros do PCC que demonstrem uma "fé inabalável e um empenhamento na via de desenvolvimento que a China traçou para si própria".
Ele advertiu que não existe uma "solução pronta" ou um "manual de instruções estrangeiro" que possa ser seguido.
"As perspetivas de desenvolvimento da China são brilhantes, e nós acreditamos e temos confiança", vincou.
Para os analistas chineses, o atual abrandamento da segunda maior economia mundial é consequência da determinação de Xi de abandonar um modelo de crescimento assente no endividamento.
Na última década, a China construiu a maior rede ferroviária de alta velocidade do mundo, cerca de cem aeroportos ou dezenas de cidades de raiz, alargando a classe média em centenas de milhões de pessoas.
Mas este modelo gerou um excesso de investimento em todo o tipo de projetos de construção sem capacidade de gerarem retorno.
Na visão do líder chinês mais forte das últimas décadas, a China deve agora alcançar um crescimento "genuíno" e converter-se numa potência industrial e tecnológica de nível mundial, com uma economia assente na produção de bens com valor acrescentado e alocação eficiente de recursos. Xi pediu que o país se concentre em objetivos de longo prazo, "em vez de visar apenas riqueza material a curto prazo".
A estratégia acarreta maior politização da economia, atribuindo mais protagonismo ao setor estatal, em detrimento do setor privado, que passou a estar restringido aos planos de Pequim para setores prioritários, ditando uma inversão no processo de liberalização da economia chinesa lançado por Deng Xiaoping nos anos 1980.
Um artigo difundido pela agência noticiosa oficial Xinhua descreveu Xi como "outro reformador extraordinário do país, depois de Deng Xiaoping", referindo que os dois líderes "enfrentaram circunstâncias históricas surpreendentemente diferentes".
Deng teve de construir a China, então mergulhada na pobreza e isolamento, a partir do zero, enquanto Xi assumiu o poder quando o país já era a segunda maior economia do mundo, mas muitas das vantagens competitivas que dispunha - como mão-de-obra barata -- começavam a desaparecer.
Alguns dos planos do líder chinês estão a ser cumpridos: a China ultrapassou, em 2023, o Japão como o maior exportador de automóveis do mundo e a transição energética a nível global depende dos painéis solares, turbinas eólicas e baterias produzidas no país.
Um estudo divulgado pelo grupo de reflexão alemão ('think tank') Instituto Económico (IW, na sigla em alemão) indicou que os fabricantes chineses ocupam agora uma quota cada vez maior nas importações europeias de produtos industriais avançados, uma área na qual a Alemanha é tradicionalmente líder.
"Durante décadas, os produtos alemães dominaram o mercado europeu, mas os concorrentes chineses estão rapidamente a ganhar terreno", advertiu.
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