Numa entrevista à margem das reuniões das 20 maiores economias do mundo, que decorrem no Rio de Janeiro, Jutta Urpilainen, questionada pela Lusa, frisou que "no final das contas é uma questão de vontade política, se haverá vontade política suficiente para fazer a diferença".
"Precisamos de vontade política e é por isso que eu acho que é tão importante que o Presidente Lula, apesar de ele ter muitos desafios no seu próprio país, mostre este forte comprometimento a esta iniciativa", disse, referindo-se ao seu forte discurso durante o lançamento da Aliança Global contra a Fome e Pobreza.
"Há muitos conflitos, tensões, o mundo está fragmentado e é importante dar relevância levantar as questões de necessidade básica" relativamente à "dignidade humana", sublinhou Jutta Urpilainen, que durante o seu discurso no G20 demonstrou total apoio e adesão a esta nova aliança.
Ainda assim, a comissária europeia elogiou o facto de "atmosfera nesta reunião do G20" ter sido "muito mais positiva do que por exemplo o ano passado em Nova Deli".
"Não vimos tantas divisões geopolíticas" devido a um tema que "une as pessoas", disse.
Os documentos constitutivos da Aliança, uma iniciativa proposta por Lula da Silva e aberta a todos os países, foram aprovados por aclamação hoje na reunião ministerial do fórum que reúne as maiores economias do mundo, pelo que a partir de agora qualquer país interessado em participar pode aderir.
A Aliança começará a funcionar oficialmente, com os seus membros fundadores e os seus diferentes projetos, na Cimeira do G20 que se realizará em novembro no Rio de Janeiro, quando terminar a presidência temporária do fórum, atualmente exercida pelo Brasil.
De acordo com os seus criadores, a ideia é que cada país elabore o seu próprio plano e defina os seus objetivos para combater a fome e a pobreza, e que a Aliança o ajude a alcançá-los, tanto financeiramente como em termos de experiência e tecnologia.
"Conseguirmos que os países se juntem e se comprometam" é o passo a seguir, disse a comissária europeia, apelando aos "líderes políticos que ponham este tópico na agenda".
Falando sobre o relatório das Nações Unidas sobre a fome apresentado hoje, Jutta Urpilainen evidenciou que "os números estão a aumentar", devido a causas como a covid-19 e a guerra na Ucrânia.
Mais de 700 milhões de pessoas enfrentaram a fome em 2023, um em cada 11 habitantes no mundo e um em cada cinco em África, de acordo com um relatório da ONU hoje divulgado.
"Estima-se que entre 713 e 757 milhões de pessoas, o que corresponde a 8,9% e 9,4% da população global, respetivamente, teriam enfrentado a fome em 2023. Considerando a faixa intermédia (733 milhões), seriam cerca de 152 milhões de pessoas a mais do que em 2019", segundo o relatório sobre o "Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo (SOFI, em inglês) 2024", da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
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