"Hoje é um dia que nos dá alguma possibilidade de expressar aquilo que nós sentimos em relação à Venezuela. Há muitos sentimentos de liberdade, de injustiça, de vontade que as coisas mudem, mas principalmente de justiça", disse à Lusa Élio Pestana.
Falando junto ao Consulado da Venezuela, o eleitor, que pôde exercer o seu direito de voto, explicou que muitos venezuelanos viram o seu direito de participar no ato eleitoral vetado.
"O recenseamento eleitoral é complexo, só funciona um mês prévio aos processos eleitorais, o que é pouco, porque inventam um conjunto de requisitos que afetam o recenseamento e limitam muito votantes. É uma questão que temos vindo a falar muito. A nossa diáspora atinge quase os sete milhões de pessoas, das quais cinco milhões deviam votar e hoje só votam 68 mil em todo o mundo, nem sequer 2%", salientou.
Élio Pestana esclareceu que a comissão eleitoral venezuelana exige a apresentação de um cartão de identificação equivalente ao Cartão de Cidadão, "mesmo que esteja caducado" o passaporte, "quando não devia ser" e "o estatuto da pessoa no país em que se encontra".
"É uma coisa que limita, mas que não impede a vontade das pessoas de vir cá", realçou, citando dados dos Censos 2021, segundo os quais há 530 eleitores em Lisboa.
Até às 15h00 votaram 122 pessoas na capital portuguesa.
Segundo Élio Pestana, as pessoas veem nestas eleições "uma necessidade de mudança".
"As pessoas não podem continuar a viver como vivem, não podem continuar com um país dividido, com uma luta constante de pessoas que são iguais, isso deve acabar. O que os venezuelanos querem é trabalhar e viver em paz", declarou.
Envergando um chapéu com as cores da Venezuela, Brigmary Thomas, que não pode votar por não estar inscrita, disse que "finalmente há uma esperança".
"Pode mudar tudo. Pode fazer com que as pessoas consigam voltar ao país", observou.
À Lusa, Brigmary Thomas lembrou que desde o chavismo "tudo tem mudado" na Venezuela.
"Depois de sermos a primeira potência da América Latina, ficámos a ser a pior. O terceiro país do mundo mais perigoso", considerou.
Também Christian Hohn, antigo preso político, disse que acredita que "as coisas vão realmente acontecer".
"Acreditamos mesmo que hoje é o dia que tudo vai mudar e que vamos, por fim regressar ao nosso país", exaltou.
"Andamos nesta luta há muitos anos. Temos um ditador no poder, que está com o regime agarrado, e isto é mesmo necessário para nós, para os venezuelanos e para a democracia no mundo inteiro", acrescentou.
Os venezuelanos escolhem hoje entre reeleger Nicolás Maduro, ou votar contra o herdeiro do chavismo, que nas sondagens tem estado atrás da oposição, encabeçada pelo diplomata Edmundo Gonzalez Urrutia, da Mesa Unitária Democrática.
Em ambiente de crise económica e social, a campanha eleitoral decorreu em clima de "tudo ou nada", com Maduro a ameaçar um "banho de sangue" e uma guerra civil caso não consiga um terceiro mandato de seis anos e a oposição a prometer lutar "até ao fim".
A escolha de cerca de 21 dos 30 milhões de venezuelanos será repartida por 10 candidatos, mas o resultado deverá decidir-se entre Maduro, do Partido Socialista Unido da Venezuela, que sucedeu no poder ao antigo líder Hugo Chavez, e o diplomata reformado Urrutia, que substituiu a candidata Maria Corina Machado, que o regime impediu de se candidatar.
Num país com uma comunidade de portugueses e lusodescendentes significativa, a população vive com baixos rendimentos, carestia e insuficiência de serviços básicos, com sistemas de saúde e educação degradados.
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