"A fraude do regime chavista é pornográfica, mas as declarações internacionais, como a da OEA, não vão alterar a situação na Venezuela. Os que vão alterar a situação serão os próprios venezuelanos, a partir de uma quebra na cúpula do poder", indica à Lusa o ex-embaixador argentino no Brasil, nos Estados Unidos, na União Europeia e na China, Diego Guelar.
Para o diplomata, o ponto de quebra do regime de Nicolás Maduro terá de vir do comando.
"Esperemos que a hierarquia se quebre e que soldados ou polícias não aceitem as ordens ilegais de um poder fático, tirânico e fraudulento. Só assim o sistema será desmontado", acredita Guelar.
Doze países americanos (Argentina, Canadá, Chile, Costa Rica, Equador, Estados Unidos, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai) pediram uma reunião de emergência da OEA para "emitir uma resolução que garanta a vontade popular das urnas sob o abrigo da Carta Democrática e dos princípios fundamentais da democracia na região".
A reunião do Conselho Permanente acontecerá hoje na sede da OEA em Washington às 15:00 locais (20:00 em Lisboa). Pretende unificar uma maioria de países, mas dificilmente terá consequências práticas porque a própria Venezuela já não faz parte da OEA.
"Será uma reunião de emergência para discutir essa situação. Uma resolução não deve alterar a situação porque a Venezuela saiu da OEA, mas precisamos de esgotar todas as instâncias institucionais e todos os mecanismos de pressão", admitiu a ministra dos Negócios Estrangeiros da Argentina, Diana Mondino, em declarações à imprensa local, horas antes de partir de Buenos Aires para Washington.
Mondino também sugeriu que poderia haver uma rotura no comando das Forças Armadas da Venezuela.
"O poder de Maduro não está nas urnas. Isso ficou claro. Apoia-se exclusivamente nas milícias armadas e no Exército, que teria focos de rebelião contra o ditador Maduro. Se esse poder se romper, acredito que haja uma boa hipótese de que o povo venezuelano possa ser livre", apontou Mondino.
A reeleição de Nicolás Maduro, nas eleições presidenciais de domingo - e em que a oposição reivindica vitória - dividiu o continente em três grupos de países.
O primeiro está formado por países que acusam o regime de fraude e que, por isso, não reconhecem o novo governo. Querem a recontagem completa dos votos perante observadores independentes. Esse conjunto de países é formado por Argentina, Canadá, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai.
O segundo grupo é de países que querem ver os boletins de votação como prova da vitória de Nicolás Maduro. Esse grupo é formado por Brasil, Colômbia, Chile, Estados Unidos e México.
O terceiro inclui países com governos historicamente aliados incondicionais de Nicolás Maduro. Esse grupo, formado por Bolívia, Nicarágua, Honduras e Cuba, proclama a vitória de Maduro sem levantar questões.
É previsível uma condenação do Presidente venezuelano por parte da maioria dos países do continente americano. Essa indicação chegou 24 horas da reunião pelo próprio secretário-geral da OEA, o uruguaio Luis Almagro, para quem a reeleição de Maduro foi "a manipulação mais aberrante".
Através de um comunicado, Almagro desafiou Maduro a assumir a derrota eleitoral ou a convocar novas eleições, desta vez transparentes.
"É imperioso saber se Maduro vai aceitar as atas em poder da oposição e, consequentemente, aceitar a sua derrota eleitoral. Caso não aceite, seria necessária a realização de novas eleições, mas, desta vez, com observadores internacionais da União Europeia e da OEA, além de novas autoridades eleitorais para que a margem de irregularidade institucional seja reduzida", instou o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos.
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