Lula é "chave" tanto para transição como para ajudar Maduro, diz Guaidó

O líder da oposição venezuelana no exílio, Juan Guaidó, defendeu hoje que os venezuelanos já fizeram "tudo" para recuperar a democracia e que o Presidente brasileiro pode ser "uma peça-chave" para uma transição eleitoral, como "interlocutor" de Nicolás Maduro.

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© Gaby Oraa/Bloomberg via Getty Images

Lusa
07/08/2024 16:05 ‧ 07/08/2024 por Lusa

Mundo

Venezuela

"Lula encontra-se num momento em que as suas ações falarão por ele. Se conseguir que Maduro reconheça a sua derrota [nas eleições presidenciais de 28 de julho] e passemos a uma transição [para a democracia], ele será uma peça-chave. Se não, estará a dar tempo ao [atual Presidente, Nicolás] Maduro", declarou Guaidó, em entrevista à agência de notícias espanhola Efe.

 

O ex-presidente da Assembleia Nacional venezuelana sustentou que são necessários mediadores para estabelecer uma negociação.

"Para mim, hoje, [o Presidente do Brasil, Luiz Inácio] Lula [da Silva] é um interlocutor de Maduro", insistiu.

Há 15 meses exilado nos Estados Unidos, Guaidó considerou que, após a "vitória eleitoral" do passado 28 de julho é preciso dar tempo à diplomacia, mas um tempo "finito, urgente", que garanta "o reconhecimento como Presidente eleito de Edmundo González Urrutia", o candidato da oposição àquelas eleições.

"A Venezuela ganhou. Isso não é pouca coisa. Penso que é daí que tudo tem de partir, e daí virá então o reconhecimento do mundo. É daí que vem a hipótese de uma transição pacífica", sublinhou.

Depois de recordar que, através da diplomacia, ele mesmo foi reconhecido por 60 países como Presidente interino da Venezuela, afirmou que desta vez a situação "é mais clara, muito mais óbvia, não só a fraude cometida por Maduro, mas também o roubo grotesco da vontade popular".

Na sua opinião, se isso foi conseguido em 2019, este ano vão consegui-lo com a ajuda dos "Estados Unidos, Panamá, Argentina, Equador e Uruguai e muitos outros países, inclusive o Chile, que afirmaram que Maduro não ganhou" as presidenciais.

Para o líder da oposição venezuelana exilado, existem, dentro da diplomacia, muitas formas de "reconhecer a vitória de Edmundo González" e agora "é pertinente e urgente a vinculação dos Presidentes da região [da América Latina], além da gestão que Lula está a fazer".

"González Urrutia, uma pessoa desconhecida até há três meses, venceu por 40 pontos percentuais um ditador há mais de dez anos no poder e, antes disso, no aparelho governamental durante mais de 20. Ou seja, o que aconteceu é um milagre", observou Guaidó, que considera que parte desse milagre foi a união da oposição.

Quanto aos esforços de organizações como a ONU, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e outras, disse que tal "não é suficiente".

"Todos esses organismos devem deixar de ser relatores de tragédias, descritores de realidades difíceis (...) e passar a responsabilizar os criminosos", sustentou.

Maduro "quer normalizar uma tragédia sem precedentes e um roubo (...), que as pessoas se habituem de facto à perseguição e à tortura. Isso é muito perigoso não só para a Venezuela. Essa impunidade enviaria uma mensagem muito má ao mundo inteiro, quando estamos a falar da luta pela democracia", afirmou.

"Ganhámos. Não podemos normalizar a fraude, o maior roubo a que assistimos neste século", reiterou.

Para Guaidó, é "difícil" chamar eleições ao escrutínio realizado a 28 de julho na Venezuela, porque as vê mais como "uma luta cívica sem condições eleitorais, sem observadores, sem propaganda, sem comunicações" e sem o voto da diáspora, que - asseverou - teria acrescentado cerca de "cinco milhões" de votos à oposição.

Condenou também a censura e a perseguição a María Corina Machado, "disfarçada de desqualificação política", e disse temer pela vida desta dirigente da oposição e também pela de González Urrutia.

"Temo pela liberdade e pela vida de ambos. Sem dúvida alguma. Acho que Maduro decidiu entrincheirar-se, decidiu incendiar os seus navios. Penso que a repressão que desencadeou é a mais brutal a que assistimos há anos na Venezuela", lamentou.

Sobre uma eventual mudança de posição dos militares venezuelanos, Guaidó observou que "a elite está muito comprometida com Maduro".

"Acho que os quadros médios e baixos sabem o que aconteceu (...); acho que eles podem pôr de lado a Constituição", acrescentou.

Guaidó salientou, por outro lado, que recorrer a uma repetição das eleições não é solução.

"Seria voltar a vitimizar-nos como sociedade", entre outras coisas, porque as presidenciais também se traduziram num "saldo muito duro de 2.000 ou mais detidos neste momento, 20 assassinados, líderes presos, na clandestinidade, em fuga ou no exílio", argumentou.

"Derrotámos Maduro. Isso tem de nos aproximar da democracia e, portanto, do regresso [ao país] - não só do meu, mas de milhões. Continuo a ter esperança de regressar a um país seguro e em reconstrução", vincou.

Leia Também: Opositor venezuelano acusa STJ de usurpar as funções do CNE

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