Hatem Abudayyeh, um porta-voz da 'March on the DNC', uma coligação de organizações que convocou vários protestos em Chicago na semana Convenção Nacional Democrata, foi questionado sobre a possibilidade destas manifestações prejudicarem a corrida democrata à Casa Branca e acabarem por beneficiar o candidato republicano, Donald Trump, um forte apoiante da guerra de Israel contra o grupo palestiniano Hamas em Gaza.
Contudo, o ativista rejeita qualquer pressão.
"Não vamos assumir nenhuma responsabilidade se Kamala Harris perder. O Partido Democrata será o responsável sozinho. Nenhum palestiniano, manifestante ou movimento pró-Palestina será responsabilizado por essa derrota. Os democratas tiveram-nos como um apoio garantido durante décadas. Serão as suas políticas anti-Palestina que causarão essa derrota, não nós", disse à Lusa.
Milhares de manifestantes reuniram-se hoje no Union Park, em Chicago, a poucos quilómetros do United Center, local onde arrancou na segunda-feira a Convenção Nacional Democrata, onde ao longo de toda a semana são esperadas cerca de 50 mil pessoas, entre delegados, jornalistas ou voluntários, para ver Kamala Harris aceitar a nomeação como candidata presencial democrata.
Após alguns discursos de figuras ligadas à luta pela libertação palestiniana, os manifestantes marcharam em direção ao local da Convenção para expressar oposição à guerra em Gaza, enquanto autoridades de Chicago garantiram estar comprometidas em manter as manifestações pacíficas.
"Este é o evento da temporada e é importante porque é aqui que milhares de pessoas estão reunidas para protestar contra o partido que está no Governo e que está a ser cúmplice de genocídio e a enviar as armas e o dinheiro para esse genocídio do povo palestiniano", afirmou Hatem Abudayyeh.
O ativista não acredita que um cessar-fogo entre Israel e o Hamas esteja no horizonte, ao contrário daquilo que o Governo de Joe Biden tem garantido.
"Não acredito nos relatórios que o Governo nos mostra, porque o que Joe Biden quer é que acreditemos nisso. Mas não há evidências de que um cessar-fogo esteja perto. Acredito apenas nas pessoas que estão em Gaza, e elas dizem-nos que um cessar-fogo não está perto de acontecer", frisou.
O porta-voz rejeitou ainda que Kamala Harris possa trazer uma mudança no apoio dos Estados Unidos a Israel e apelou para que os norte-americanos não se deixem levar por "falsas promessas".
"Não há nada que a Kamala tenha dito ou feito que me leve a crer que ela será diferente ou melhor do que Joe Biden. Ela não quer um cessar-fogo permanente. Ela queria um cessar-fogo temporário, para deixar entrar ajuda, e que depois Israel voltasse a atacar. Não é isso que nós queremos. Para ser sincero, o tempo de um cessar-fogo já caducou, isso era em novembro. Agora o tempo é de acabar com este genocídio", apelou.
Questionado sobre aquilo que pretende atingir com estes protestos, Hatem Abudayyeh assegurou que os objetivos já foram parcialmente atingidos, uma vez que se registou uma "forte unidade em torno da causa palestiniana", com o apoio de "algumas das organizações mais importantes do país".
"Quando vemos esta multidão de pessoas, sejam elas negras, latinas, asiáticas, nativas, de todas as nacionalidades e religiões, a marchar juntas sob os lemas "Palestina Livre" e "Parem o genocídio" isso é uma vitória massiva. Sabemos que o mundo inteiro está com o povo da Palestina", afirmou à Lusa.
Ao longo do protesto foram erguidos cartazes com frases como "Joe Biden genocida", "Acabem com o genocídio", "Libertem a Palestina" ou "Libertem Gaza.
À Lusa, Pat, uma ex-enfermeira de 71 anos, contou que viajou da Califórnia até Chicago para apoiar esta manifestação e assegurou que não votará em Kamala Harris nas eleições presidenciais de novembro.
"Sou uma enfermeira, eu valorizo a vida humana. Libertem Gaza, não deixem que os Palestinianos morram", instou, emocionada.
"Estou mesmo muito chateada com esta situação. Valorizo a vida humana demasiado para permitir que isto aconteça. Mas estou aqui também porque os Estados Unidos estiveram envolvidos em tantas guerras, financiaram tantas guerras, que nos deixaram sem dinheiro para os nossos pobres, para educação ou até para os veteranos e idosos, como eu. Os democratas estão só a ajudar os sionistas e não sei como é que não se sentem culpados por isso", afirmou.
Pat antecipa que Kamala Harris não mudará de posição em relação ao conflito em Gaza e seguirá o caminho do Partido Democrata, "que é financiar o genocídio", e é por isso que saiu hoje à rua, explicou à Lusa.
John, de 76 anos, mora numa cidade perto de Chicago e deslocou-se ao Union Park porque "não há outra opção", uma vez que "dezenas de pessoas estão a serem mortas todos os dias com armas financiadas pelos Estados Unidos".
"Da Kamala não espero nada a não ser muitas palavras e nenhuma ação. Em novembro não posso apoiar nem democratas nem republicanos. Escolherei outro candidato", assegurou.
"Se não fizermos a diferença entre a classe política por estarmos aqui, pelo menos sei que outras pessoas irão ver-nos e saberão que não estão sozinhas, mas sim do lado certo da história", concluiu.
Mais tarde, e após um início de protesto pacífico, manifestantes furaram a vedação montada pela polícia junto à Convenção Nacional Democrata.
Enquanto um grupo maior caminhava, algumas dezenas de pessoas conseguiram escapar e derrubaram partes da vedação de segurança.
Alguns manifestantes, vestidos de preto e com a cara tapada, arrastaram pedaços da vedação até um parque perto do United Center, onde decorre a convenção.
Vários manifestantes que conseguiram passar a vedação foram detidos e algemados pela polícia, noticiou a agência Associated Press (AP).
As autoridades garantiram que o perímetro de segurança interno em redor do local da convenção não foi violado e não houve qualquer ameaça para os participantes da convenção.
Ativistas gritavam "Acabem com a ocupação agora" e "O mundo inteiro está a ver!" tal como fizeram os manifestantes anti-Guerra do Vietname, durante a convenção de 1968 em Chicago, quando a polícia entrou em confronto com os manifestantes em direto na televisão.
A caminhada dos manifestantes ocorreu no momento em que o Presidente Joe Biden, que tem sido alvo de intensas críticas por parte de grupos pró-Palestina, incluindo os manifestantes, fazia uma visita ao praticamente vazio United Center.
Os manifestantes garantiram que os seus planos não mudaram desde que Biden abandonou a corrida à Casa Branca e que o partido rapidamente se reuniu em torno de Kamala Harris, que aceitará formalmente a nomeação democrata esta semana.
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