O porta-voz da ONU em Nova Iorque, Stephane Dujarric, defendeu a Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão, ou UNAMA, e a sua diretora Roza Otunbayeva, que afirmou que as novas leis dos talibãs dão uma "visão angustiante" do futuro do Afeganistão.
"Temos sido muito claros quanto à decisão [dos talibãs] de apagar ainda mais a presença das mulheres no Afeganistão. Em termos de contactos com as autoridades de facto, continuaremos a colaborar com todas as partes interessadas no Afeganistão, incluindo os talibãs", afirmou Dujarric, numa conferência de imprensa.
"Fizemo-lo sempre de acordo com o nosso mandato e, diria eu, de forma imparcial e de boa-fé, respeitando sempre as normas da ONU, promovendo as mensagens dos direitos humanos e da igualdade. E continuaremos o nosso trabalho de acordo com o mandato do Conselho de Segurança", acrescentou.
Nas últimas semanas, dezenas de mulheres afegãs estão a publicar nas redes sociais vídeos em que aparecem a cantar, em protesto contra a última restrição imposta pelos talibãs.
Os vídeos incluem mulheres solteiras e outros grupos de mulheres afegãs, que reclamam o seu direito a falar ou a mostrar o rosto em público.
'Mulheres, vida e liberdade', slogan adotado no Irão em 2023 para defender a liberdade das mulheres, também está a ser usado nestes protestos.
Para além de condenar o som público da voz de uma mulher como uma violação do pudor, o governo de facto dos talibãs no Afeganistão ratificou na semana passada uma lei, criticada pela comunidade internacional, que obriga as mulheres afegãs a usar o véu.
A lei exige que as mulheres cubram o rosto e o corpo para evitar "causar tentação" e para impedir o som em público ou as vozes elevadas das mulheres, incluindo cantar, recitar ou falar para microfones.
Proíbe igualmente os condutores de transportarem mulheres adultas sem um tutor legal do sexo masculino.
Desde que chegaram ao poder, em agosto de 2021, os talibãs impuseram uma série de proibições incessantes às mulheres, empurrando-as cada vez mais para a reclusão privada, tal como aconteceu durante o anterior regime talibã, entre 1996 e 2001.
Estas restrições incluem a proibição do ensino secundário e superior para as mulheres, ou de as mulheres afegãs ocuparem a maioria dos postos de trabalho.
Os talibãs justificam estas medidas com a sua interpretação da Sharia ou lei islâmica.
Na semana passada, Roza Otunbayeva afirmou que as leis alargam as "restrições já intoleráveis" aos direitos das mulheres e das raparigas, sendo "até o som de uma voz feminina" fora de casa aparentemente considerado uma violação moral.
As leis foram promulgadas depois de terem sido aprovadas pelo líder supremo Hibatullah Akhundzada.
O ministério apelou às organizações internacionais, aos países e aos indivíduos para que respeitem os valores religiosos dos muçulmanos e anunciou na sexta-feira que deixará de cooperar com a UNAMA devido às suas críticas às leis.
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