O Papa Francisco iniciou hoje uma visita de três dias a Timor-Leste e especialmente para os adultos tem sido motivo para recordar outra visita papal, a de João Paulo II, a 12 de outubro de 1989.
As cerimónias oficiais de boas vindas, com discursos do Presidente, José Ramos-Horta, e do Papa Francisco, aconteceram num salão da Presidência da República, para apenas 400 pessoas representando dirigentes de todos os setores do país e corpo diplomático.
Nina Peregrina estava lá hoje também mas, como contou à Lusa, não viu João Paulo II há 35 anos. Porque tinha 12 anos e vivia no mato.
"Eu nasci no mato". E enquanto o disse ligou o telemóvel, procurou nas fotografias, e mostra uma digitalizada, a de uma menina, de roupa militar, a mais pequena de um grupo de guerrilheiros, armas a tiracolo, que na altura lutavam contra a ocupação indonésia.
"Foi tirada no ano da visita do Papa", assegurou.
Nina Peregrina, hoje vestida a rigor, fazia parte do grupo de guerrilheiros da chamada sub-região Luar. E apesar de andarem escondidos e longe das aldeias e vilas, no meio do mato, apesar de não haver como hoje a facilidade de comunicações, sabiam tudo o que se passava, incluindo da visita da João Paulo II e das suas palavras.
"Não ouvimos diretamente, mas tínhamos emissários secretos, elementos que nos davam as informações. Aliás alguns membros das Falintil (forças armadas que lutaram contra a ocupação indonésia) participaram nas cerimónias, vestidos de civil", contou à Lusa.
Porque estudou depois em Portugal, a antiga guerrilheira já tinha visto o Papa Francisco, em 2017. Mas agora é muito diferente. "Agora com muito orgulho e muito contente", orgulho de ver o Papa ali na sua frente, e orgulho de o ver também em Timor-Leste, "um país tão pequenino e amigo de todos os países".
A Nina Peregrina brilharam-lhe os olhos, como de resto devem ter brilhado na mesma sala os de outros guerrilheiros, com a luta pela libertação a estar bem destacada com grandes fotografias dos principais lutadores contra o domínio indonésio em todas as paredes.
A sala do primeiro discurso do Papa, da troca de presentes e da assinatura do livro de honra, foi também a sala representando a cultura timorense e a arte.
E no palco montado pontificaram apenas duas cadeiras brancas, na parede atrás a frase "Visita de Estado de Sua Santidade Papa Francisco", num fundo com os símbolos do país, uma fotografia do Papa e uma imagem da ilha.
Foi nessas cadeiras que o Papa e o Presidente se sentaram, após uma entrada a fazer lembrar o início de concertos musicais, todos de pé e de telefone no ar a filmar ou a fotografar.
A cerimónia de boas-vindas culminou um dia de festa nas principais ruas de Dili, onde afluíram milhares de pessoas, apesar do calor, para ver o Papa Francisco.
O Papa chegou hoje a Timor-Leste para uma visita de três dias no âmbito de uma deslocação à região da Ásia-Pacífico, tendo já estado na Indonésia e na Papua Nova Guiné.
Esta é a segunda vez que um Papa visita Timor-Leste, país onde 98% dos 1,3 milhões de habitantes são católicos.
Depois de Timor-Leste, o Papa visita ainda Singapura, na mais longa deslocação do seu pontificado até agora e que dura até sexta-feira.
Leia Também: PR de Timor-Leste afirma que visita do Papa acontece em "momento crucial"