Num novo relatório, a apresentar na próxima semana ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, a missão de inquérito das Nações Unidas para o território sírio, presidida pelo brasileiro Paulo Pinheiro, afirma que, nos últimos meses, as hostilidades aumentaram em várias frentes do conflito.
"Houve um aumento dos bombardeamentos israelitas contra as milícias apoiadas pelo Irão e mesmo contra oficiais iranianos, causando vítimas civis em pelo menos três ocasiões", a última das quais no domingo, na província de Hama, no centro da Síria, que causou 26 mortos, refere o relatório.
"Por seu lado, os grupos ligados ao Irão atacaram bases no leste da Síria mais de 100 vezes desde o início da guerra em Gaza, a última das quais no mês passado, que foi recebida com contra-ataques dos Estados Unidos", sublinha o documento, destacando que seis exércitos estrangeiros continuam envolvidos no conflito sírio.
Os ataques do exército do regime de Bashar al-Assad prosseguiram no noroeste do país, alguns dos quais com recurso a bombas de fragmentação (proibidas em mais de 100 países), que nos últimos incidentes mataram e feriram mais de 150 civis, incluindo mulheres e crianças, refere o relatório.
O documento denuncia igualmente os ataques aéreos das forças russas que causaram vítimas civis em Idlib (nordeste) e das forças turcas no noroeste, que atingiram instalações médicas e energéticas no inverno passado, prejudicando os serviços básicos para mais de um milhão de pessoas.
O sul da Síria também continua a ser atingido pela violência, disse a comissão, referindo que lançou uma investigação aprofundada sobre o massacre de Daraa (07 de abril), em que 10 civis, incluindo duas crianças, foram executados por uma milícia pró-governamental.
Os milicianos gritaram palavras de ordem ligadas ao grupo rebelde Estado Islâmico (EI) durante o massacre e executaram as vítimas com facas ou tiros à queima-roupa, em factos que podem ser considerados crimes de guerra, refere o relatório a apresentar ao Conselho.
Enquanto o massacre ocorria, as forças governamentais "ficaram a poucos metros de distância, sem intervir ou proteger os civis, mostrando que a Síria está a afundar-se na ilegalidade", afirmou Hanny Megally, membro da comissão tripartida.
O documento sublinha também que o governo sírio continua a utilizar a tortura contra os detidos, em alguns casos através de violência sexual, apesar da ordem do Tribunal Penal Internacional, no ano passado, para pôr fim a estes atos degradantes.
Segundo o relatório, foram ainda registados casos de tortura, bem como de execuções de prisioneiros, perpetrados pelo grupo terrorista Hayat Tahrir al-Sham no noroeste do país.
O relatório recorda que as Forças Democráticas Sírias, que se opõem ao regime de al-Assad no norte do país e são apoiadas pelos Estados Unidos, continuam a deter cerca de 30.000 crianças nos campos de internamento de al-Hol e al-Roj, devido às alegadas ligações dos seus pais ao grupo Estado Islâmico.
Numerosos membros da etnia yazidi estão também detidos nestes campos, apesar de terem sido vítimas de práticas genocidas do próprio EI, denunciou o terceiro membro da comissão, Lynn Welchmann.
Paralelamente à intensificação do conflito, a Síria está a afundar-se numa crise humanitária, em que 13 milhões de habitantes do país (mais de metade da população nacional) se encontram em situação de insegurança alimentar, incluindo 650 mil crianças com subnutrição aguda, recorda o relatório de peritos da ONU.
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