"Isto deve-se ao número de ameaças contra o nosso país", afirmou o porta-voz do Kremlin (presidência russa), Dmitri Peskov, quando questionado sobre a decisão de Putin.
O líder russo assinou na segunda-feira um decreto que fixa a força autorizada das Forças Armadas russas em 2,3 milhões de pessoas, incluindo 1,5 milhões de militares.
No decreto anterior, agora revogado, os números eram de 2,2 milhões de pessoas, incluindo 1,3 milhões de militares, segundo a agência oficial russa TASS.
Trata-se do terceiro aumento dos efetivos militares decretado por Putin desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, segundo a agência espanhola EFE.
Em dezembro de 2023, Putin aumentou o número de soldados em quase 170.000 efetivos.
Em agosto de 2022, quando os ucranianos começavam a recuperar terreno, já tinha ordenado um aumento de 137.000 soldados nas Forças Armadas.
A decisão deve-se a "uma situação extremamente hostil nas nossas fronteiras ocidentais e à instabilidade nas nossas fronteiras orientais", disse Peskov, citado pela agência francesa AFP.
A situação "exige a adoção de medidas adequadas", acrescentou.
Os Estados Unidos e o Reino Unido estão a ponderar autorizar a Ucrânia a utilizar mísseis de longo alcance contra o território russo, o que levou Putin a afirmar que isso significaria que a NATO "estaria em guerra com a Rússia".
A Rússia, que tem cerca de 700.000 militares na Ucrânia, acelerou o recrutamento de soldados nas últimas semanas devido à incursão ucraniana na região fronteiriça de Kursk.
Com o novo aumento de efetivos, os meios de comunicação social russos referiram que o exército da Rússia se tornará o segundo maior do mundo, a seguir à China.
Para recrutar cada vez mais pessoas, as autoridades têm realizado grandes campanhas publicitárias em todo o país, prometendo salários muito elevados e numerosos benefícios fiscais e sociais aos potenciais recrutas.
Também recrutaram dezenas de milhares de reclusos das prisões do país, segundo a AFP.
A Rússia não menciona as perdas humanas na Ucrânia, mas muitas análises independentes, bem como as dos serviços de informação ocidentais, estimam que são colossais, ascendendo a centenas de milhares de mortos e feridos.
Na linha da frente, o exército russo é muito mais numeroso do que o da Ucrânia, um país com uma população mais de três vezes menor do que a da Rússia (cerca de 40 milhões contra cerca de 145 milhões).
O Kremlin também redirecionou a economia russa para o esforço de guerra, multiplicando o orçamento de defesa e desenvolvendo rapidamente a indústria militar, segundo a AFP.
Num comentário à decisão de Putin, o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês) considerou que o aumento dos efetivos militares vai para além da guerra na Ucrânia e faz parte de um objetivo a longo prazo.
Putin quer "aumentar a dimensão e o potencial global do exército russo através de reformas militares a longo prazo e em grande escala", disseram os especialistas do ISW, um centro de análise com sede em Washington.
As reformas em curso, iniciadas em 2023, incluem a restauração dos distritos militares de Moscovo e Leninegrado, e a formação de novos corpos de exército, bem como divisões mecanizadas e aerotransportadas.
"No entanto, a capacidade da Rússia de adotar adequadamente essas reformas e integrar o aumento do pessoal de combate depende em parte da condução de guerra na Ucrânia", acrescentou o ISW num relatório citado pela agência ucraniana Ukrinform.
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