Mas as Forças Armadas da República Democrática do Congo (FARDC) e as milícias suas aliadas também colocaram a população em risco ao cercarem os campos que se situam nos arredores da cidade de Goma, capital da província do Kivu do Norte, com artilharia, afirmou a organização.
"À medida que o conflito entre as forças congolesas e ruandesas e as milícias suas aliadas se aproxima de Goma, os residentes da zona e mais de meio milhão de pessoas deslocadas correm cada vez mais o risco de serem apanhados nos combates e de lhes ser negada ajuda humanitária", adiantou num comunicado a investigadora sénior da HRW em África Clémentine de Montjoye.
A atividade armada do M23 reacendeu-se em 2022, após anos de relativa calma, e desde então o grupo avançou em várias frentes até chegar a 20 quilómetros de Goma, cidade que já tinha ocupado durante dez dias em 2012.
Os insurgentes assumiram o controlo das estradas que ligam o resto do país a esta cidade estratégica com mais de um milhão de habitantes e onde se encontram numerosas organizações não-governamentais internacionais e instituições da ONU.
Desde janeiro de 2024, a HRW documentou cinco ataques "ilegais" do M23 e de soldados ruandeses que apoiam o grupo a campos de deslocados internos ou a áreas densamente povoadas perto de Goma, incluindo o disparo de pelo menos três mísseis contra um campo a 03 de maio, que causou 17 mortos, 15 dos quais crianças.
Além disso, os soldados congoleses e os grupos armados com os quais colaboram, rebatizados de "wazalendo" ("patriotas" em suaíli), mataram e feriram civis abrindo fogo nos campos.
De acordo com a investigação da HRW, as tropas e milícias congolesas, bem como os rebeldes do M23, violam regularmente mulheres nos campos ou quando estas saem para recolher lenha e alimentos.
De facto, os Médicos Sem Fronteiras (MSF) revelaram, no início de agosto, que mais de 10% das mulheres com idades entre os 20 e os 44 anos abrigadas perto de Goma relataram ter sido violadas entre novembro de 2023 e abril de 2024.
Esta situação dificulta a entrega de ajuda humanitária a estes campos e levou à escassez de alimentos para a população, denunciou a HRW, uma vez que as organizações são apanhadas no fogo cruzado entre as partes.
"O Congo e o Ruanda devem reconhecer que os abusos cometidos por uma das partes no conflito nunca justificam os abusos cometidos pela outra parte, tem de se pôr termo ao seu apoio a grupos armados abusivos e responsabilizar os que cometem crimes de guerra", afirmou Montjoye.
Além da crise humanitária, os combates provocaram graves tensões entre a RDCongo e o Ruanda devido à alegada colaboração de Kigali com o M23, que as autoridades ruandesas sempre negaram, apesar da confirmação das Nações Unidas e do apoio público do Presidente ruandês, Paul Kagame, à milícia.
Por sua vez, o Ruanda e o M23 acusam o exército congolês de colaborar com as rebeldes das Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), fundadas em 2000 por líderes do genocídio de 1994 e outros ruandeses (hutus) exilados na RDCongo para recuperar o poder político no seu país, uma colaboração também confirmada pela ONU.
Leia Também: RDCongo. Presos libertados de maior prisão já são mais de 1600