Ao receber o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em Washington, e horas depois de o seu rival na corrida presidencial, Donald Trump, ter repetido a reivindicação de que se for eleito resolverá o conflito na Ucrânia rapidamente, Harris qualificou de "perigosa e inaceitável" qualquer sugestão de que Kiev deva ceder território à invasora Rússia.
"Há pessoas no meu país que gostariam de forçar a Ucrânia a abandonar grandes parcelas do seu território soberano, que pediriam à Ucrânia que se declarasse neutra e que exigiriam que a Ucrânia renunciasse a relações militares com outros países", disse Harris, ladeada por Zelensky, em declarações à imprensa.
"Essas propostas são as mesmas que as de [Vladimir] Putin (Presidente russo) e não são propostas de paz. São propostas de capitulação, o que é perigoso e irresponsável", acrescentou.
Zelensky, que se deslocou a Washington depois de ter discursado na Assembleia Geral das Nações Unidas, obteve durante a visita um reforço do apoio militar dos Estados Unidos à defesa do seu país, e um compromisso da Casa Branca quanto à continuidade da assistência.
"O meu apoio ao povo ucraniano é inabalável", disse Kamala Harris.
Antes, Zelensky reuniu-se na Casa Branca com o Presidente Joe Biden, que prometeu empenhar-se no apoio à Ucrânia até ao final do seu mandato, em janeiro de 2025.
Biden e Zelensky fizeram curtas declarações à imprensa na Sala Oval, antecedendo a reunião, no dia em que a Casa Branca anunciou um novo pacote de ajuda militar à Ucrânia avaliado em mais de sete mil milhões de euros e munições de longo alcance.
"A Rússia não vencerá. A Ucrânia vencerá e continuaremos a apoiá-los em cada passo do caminho", prometeu o líder norte-americano ao homólogo ucraniano, que usava o seu habitual traje militar.
Biden deu detalhes deste pacote de ajuda, que contém assistência militar previamente aprovada pelo Congresso e que será entregue à Ucrânia antes da tomada de posse de um novo Presidente dos Estados Unidos, após as eleições de 05 de novembro.
"Quando o meu mandato terminar, que será a 20 de janeiro, teremos reforçado a posição da Ucrânia nas futuras negociações", declarou Biden.
Após o anúncio de Biden, Zelensky agradeceu a ajuda militar norte-americana, que disse estar certo de poder promover a vitória da Ucrânia contra a invasão russa.
"Vamos utilizar esta ajuda da forma mais eficaz e transparente para alcançar o nosso principal objetivo comum: a vitória da Ucrânia, uma paz justa e duradoura", prometeu Zelensky.
O Presidente ucraniano sublinhou a importância das baterias Patriot que Biden prometeu à Ucrânia, bem como dos outros meios de defesa aérea e da nova assistência no domínio dos 'drones', mísseis de longo alcance e munições ar-terra que o Exército norte-americano irá enviar para Kiev.
Referiu ainda a decisão de Biden de oferecer formação na operação de aviões F-16 a mais pilotos ucranianos, e aplaudiu as medidas anunciadas pelo Presidente dos Estados Unidos para reforçar a eficácia das sanções contra a Rússia e combater o branqueamento de capitais que beneficia o esforço de guerra russo.
A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991 - após a desagregação da antiga União Soviética - e que tem vindo a afastar-se do espaço de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.
A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.
Já no terceiro ano de guerra, as Forças Armadas ucranianas confrontaram-se com falta de soldados e de armamento e munições, apesar das reiteradas promessas de ajuda dos aliados ocidentais, que começaram entretanto a concretizar-se.
As negociações entre as duas partes estão completamente bloqueadas desde a primavera de 2022, com Moscovo a continuar a exigir que a Ucrânia aceite a anexação de uma parte do seu território, e a rejeitar negociar enquanto as forças ucranianas controlem a região russa de Kursk, parcialmente ocupada em agosto.
[Notícia atualizada às 21h47]
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