Perante a gravidade da situação, a ONG apela a "ações urgentes", a nível nacional e internacional, para prevenir o fenómeno.
No ano passado, as equipas de MSF na RDCongo, país que faz fronteira com Angola, "ajudaram a tratar 25.166 vítimas e sobreviventes de violência sexual de todos os géneros no país. São mais de duas por hora", afirmou a ONG em comunicado, referindo que as mulheres e as raparigas representavam 98% destas pessoas.
Este número é o mais elevado alguma vez registado pelos MSF no país, de acordo com dados de 17 projetos criados pela organização em apoio ao Ministério da Saúde em cinco províncias congolesas: Kivu do Norte, Kivu do Sul, Ituri, Maniema e Kasai Central.
Nos anos anteriores (2020, 2021, 2022), a MSF tratou uma média de 10.000 vítimas por ano no país, pelo que 2023 marca "um aumento em massa de admissões".
Essa tendência acelerou-se nos primeiros meses de 2024. Segundo a ONG, entre janeiro e maio, mais de 17.300 vítimas e sobreviventes foram tratados apenas na província do Kivu do Norte, que tem sido abalada pela violência de grupos armados e do exército congolês.
Noventa e um por cento das vítimas tratadas com assistência de MSF em 2023 foram admitidas no Kivu do Norte, onde os combates entre o Movimento rebelde 23 de março (M23), o exército congolês e seus respetivos aliados se registam desde o final de 2021, forçando centenas de milhares de civis a fugir.
A grande maioria das vítimas (17.829) foi tratada em campos de deslocados internos em torno de Goma, capital do Kivu do Norte, que continuaram a crescer no ano passado.
"De acordo com os testemunhos dos nossos pacientes, dois terços deles foram atacados à mão armada", disse Christopher Mambula, diretor dos programas dos MSF na RDCongo.
A ONG apelou a todas as partes envolvidas no conflito para que garantam o respeito pelo direito humanitário internacional e exigiu uma "proibição absoluta de atos de violência sexual", mas também o respeito pelo caráter civil dos campos de deslocados.
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