Conflito é "oportunidade para Líbano libertar-se do Irão"

O atual conflito no Médio Oriente pode representar uma oportunidade para "o Líbano se libertar da influência da teocracia iraniana", afirmou à Lusa a jornalista e historiadora norte-americana Anne Applebaum.

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© MAHMOUD ZAYYAT/AFP via Getty Images

Lusa
03/10/2024 10:13 ‧ 03/10/2024 por Lusa

Mundo

Anne Applebaum

Apesar das perturbações que o conflito tem causado, Applebaum tem esperança "que [o conflito] possa ser o início da mudança" no país, disse Applebaum em entrevista à Lusa.

 

Apesar de ser um país soberano, o poder militar no Líbano está concentrado no movimento pró-iraniano Hezbollah, considerado terrorista por Estados Unidos e União Europeia, e que rejeita a existência do Estado de Israel, que designa de "entidade sionista".

A jornalista e historiadora reiterou que o conflito na região tem contribuído para o enfraquecimento contínuo do Hezbollah, dando agora aos libaneses a oportunidade de "recuperar o controlo do seu país"

Autora do novo livro "Autocracia, Inc. - Os ditadores que querem governar o mundo", Anne Applebaum é historiadora e jornalista norte-americana, vencedora do Prémio Pulitzer em 2004.

Applebaum é ainda redatora da equipa do The Atlantic e membro sénior do Agora Institute da Universidade Johns Hopkins, onde co-dirige um projeto sobre a desinformação do século XXI.

A intensificação das hostilidades no Médio Oriente surge à luz dos combates que se arrastam há quase um ano, quando o Hezbollah atacou o território israelita um dia após os ataques de 07 de outubro dos islamitas palestinianos do Hamas.

Desde então, Israel e Hezbollah estão envolvidos num intenso fogo cruzado diário, levando a que dezenas de milhares de pessoas tenham abandonado as suas casas em ambos os lados da fronteira israelo-libanesa.

Israel declarou a 07 de outubro do ano passado uma guerra na Faixa de Gaza para "erradicar" o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando 1.205 pessoas, na maioria civis, incluindo reféns em cativeiro.

Desde 2007 no poder em Gaza, o Hamas fez também nesse dia 251 reféns, 97 dos quais continuam em cativeiro, 33 dos quais entretanto declarados mortos pelo Exército israelita.

Para Applebaum, a perda da influência do Irão no Líbano e o regresso deste país "à prosperidade e o afastamento do terrorismo seria uma grande mudança no Médio Oriente".

No entanto, a jornalista americana advertiu contra as acções disruptivas de Israel no Líbano, que podem apresentar-se como uma ameaça à sua estabilidade.

"Espero que os israelitas não voltem a abusar da sua influência e a perturbar ainda mais o Líbano e a criar outra reação adversa", acrescentou.

O Hezbollah integra o chamado "Eixo da Resistência", uma coligação liderada pelo Irão de que fazem parte também, entre outros, o grupo extremista palestiniano Hamas e os rebeldes Huthis do Iémen.

O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, morreu no mês passado num bombardeamento israelita da sede da organização, nos subúrbios sul de Beirute.

A morte do líder do movimento xiita libanês Hezbollah aconteceu após a morte do chefe das operações militares e das forças de elite, Ibrahim Aqil, num outro ataque em Beirute.

O Governo do Irão lançou, na noite de terça-feira, cerca de 200 mísseis contra Israel, em retaliação por estas mortes e também da do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, e de um general iraniano.

As Forças de Defesa de Israel disseram que a maioria dos mísseis foi intercetada com o apoio dos Estados Unidos e Washington garantiu que vai colaborar com Telavive na resposta a Teerão.

O bombardeamento iraniano foi o segundo feito por este país diretamente contra Israel, após um outro realizado em abril em resposta a um ataque aéreo mortal ao consulado iraniano em Damasco, que Teerão atribuiu a Israel.

Leia Também: Netanyahu prolonga guerra para "permanecer no poder", diz Anne Applebaum

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